Passei oito dias em Baku, a capital da República do Azerbaijão, país do extremo leste da Europa, limitando-se com o oeste da Ásia. Por isso, diz-se que ele integra a Eurásia.
Nele se encontra o Mar Cáspio, o maior lago de água salgada do mundo, que tem ondas. Sua população, pouco superior a dez milhões de habitantes, é principalmente urbana.
País rico, exporta petróleo e gás natural. A riqueza transparece nos edifícios icônicos, com formas extravagantes e abuso das curvas. A curiosidade é que Baku está a vinte e oito metros abaixo do nível do mar.
Chega-se lá por muitos caminhos. Muita gente foi por Doha, no Qatar. Outros por Frankfurt e Dubai. Fui por Istambul, pela Turquish Airlines. Mais ou menos dezoito horas de voo, sem contar a espera no aeroporto.
Mas valeu a pena. Imagine uma cidade limpa. Sem um papel no chão, uma garrafa pet, nada que escondesse a absoluta limpeza de calçamento com pedras nobres, formando desenhos e repleto de canteiros floridos. Idosas permanentemente a varrer os bulevares, os passeios, as praças e jardins.
Uma cidade verde e florida. O colorido enfeita todos os espaços. Não há morador de rua. O clima é de perfeita segurança. Muitas crianças e suas mães. Todos vestidos adequadamente, com predominância do preto para uma juventude que faz questão da barba. Enquanto isso, as mulheres muito elegantes, sempre sorrindo.
Um apreço enorme pela iluminação. Sobram luzes até em volta dos canteiros. Muita água em fontes permanentemente a jorrar. E os edifícios mais imponentes providos daquele neon que forma desenhos e reproduz a bela bandeira em azul, vermelho e verde.
A eficiência dos responsáveis pela COP29 causa espanto. Primeiro, porque se cuidou de construir uma infraestrutura que fará de Baku um dos balneários mais procurados em todo o mundo. Iniciativas como o empreendimento “Sea Breeze”, onde me hospedei, são respostas positivas às exigências de dotação de uma capital de leitos suficientes para acomodar dezenas de milhares de visitantes.
Não são verdadeiros “armários”, como os que são oferecidos aqui. Grandes dimensões, construções sólidas, ferragem e acabamento de primeira, com espaço suficiente para bem acomodar várias pessoas em um só apartamento. O projeto de ocupação dessa área costeira do Cáspio é audacioso, mas está em plena execução.
Anfitriões zelosos do bem-estar de seus convidados, os azerbaijanos, que são todos alfabetizados, esmeram-se na arte de receber com fidalguia. Tive contato com centenas de jovens, todos uniformizados, falando inglês perfeito, procurando os visitantes antes mesmo de que estes solicitassem ajuda. “Em que posso ajudá-lo”, era o início. Depois da informação correta e extremamente polida, a despedida com sorriso espontâneo era “Have a nice day!”.
Isso não falhou e era constante mesmo em relação aos jovens que fizeram a segurança. Poucos metros separavam um do outro, a circundar os enormes espaços em que se desenvolviam as atividades da COP. Nada pesado, nada formal. Eram profissionais felizes por poder mostrar sua civilização ao restante do mundo.
E há muito a se ver em Baku. O Centro Cultural Heydar Aliyev, de arrojada arquitetura projetado pela arquiteta Zaha Hadid. Um desenho fluido, que lembra ondas ou dunas. A Cidade Velha, um dos centros históricos mais bem preservados do planeta. Os “Flame Towers” são três edifícios cujo desenho simboliza o fogo e a energia. À noite, ofereciam espetáculo de luzes cujo final é, exatamente, o fogo a flamejar.
O Boulevard Baku, no Mar Cáspio, é a orla frequentada por todas as famílias, nada fica a dever às praias mais famosas do globo. Ao contrário, são mais limpas, mais iluminadas, muito bem frequentadas.
Cheguei a ganhar a estrada, em direção às Cordilheiras do Cáucaso, cobertas de neve. A recepção que o Azerbaijão ofereceu aos partícipes da COP29 nos inspire para que a COP30, em Belém do Pará, nos deixe orgulhosos também. O Azerbaijão me conquistou. Espero voltar.
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)
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