A COP29, o mais importante evento global para discutir mudanças no clima, realizado em Baku, no Azerbaijão, terminou no final de semana explicitando o fosso que existe entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento em relação ao financiamento climático – ou seja, quem viabiliza os recursos para transição rumo a uma economia de baixo carbono.
Há algumas edições, o dinheiro tem estado no topo das preocupações dos encontros. Porém, com o fim do acordo iniciado em 2020 e que termina em 2025 (US$ 100 bilhões por ano disponibilizado pelos países ricos para este fim), esta questão tornou-se urgente e inescapável.
Especialistas calculam serem necessários pelo menos US$1 trilhão por ano até o fim da década para viabilizar a transição. As nações em desenvolvimento demandam mais, US$ 1,3 trilhão. No entendimento deles, esta conta deve ser paga pelos países ricos, que ascenderam explorando os recursos naturais do planeta.
Os países desenvolvidos, no entanto, se comprometeram apenas com US$ 300 bilhões por ano até 2035. Além disso, querem que boa parte desses recursos sejam disponibilizados em forma de empréstimo, e não doados, além de considerar que nações emergentes como o Brasil e China também deveriam contribuir.
Com isso, aumenta a pressão sobre a COP30, que será realizada em Belém, no Pará, em 2025. Se o Brasil queria focar a discussão na implementação dos recursos, terá de coordenar o debate em busca de mais dinheiro para o financiamento climático.
É claro que não é fácil encontrar consenso entre os quase 200 países com interesses tão diversos. Contudo, os eventos extremos cada vez mais frequentes a que temos assistido, em diferentes regiões da Terra, são um lembrete da urgência do tema.
Segundo os cientistas, as mudanças no clima estão provocando alterações rápidas e generalizadas em todos os ecossistemas do planeta, bem como na atmosfera, nos oceanos e nos continentes. A temperatura média em relação aos níveis pré-industriais tem subido ano a ano.
Em 2021, o aumento foi de 1,16ºC; em 2022, de 1,18ºC; e, em 2023, 1,48ºC. Atualmente, a elevação está em 1,59ºC – acima do previsto no Acordo de Paris, que é no máximo de 1,5°C além dos níveis pré-industriais. Este limite foi ultrapassado por 16 meses.
Cada fração de grau a mais traz impactos severos e torna a adaptação mais difícil e custosa. Há modelos sofisticados que dizem que, sem uma forte ação para reverter o quadro atual, o aumento de temperatura global caminha para algo próximo dos 3°C acima dos níveis pré-industriais ainda neste século, o que traria consequências desastrosas para o planeta e a humanidade.
De positivo, a COP29 conseguiu consenso nas regras para a criação de um mercado de carbono apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU). É uma vitória depois de quase dez anos de discussões.
O mecanismo possibilita que países ou empresas comprem créditos de carbono de projetos em qualquer lugar do planeta que reduzam as emissões de CO? ou as removam da atmosfera e os utilizem para compensar suas próprias emissões. A expectativa é que a chancela da ONU ajude a organizar os dados. Hoje, apenas entes privados atuam nesta função.
É preciso que os líderes mundiais tenham o senso de urgência necessário para evitar uma ruptura irreversível do sistema climático. O relógio está correndo contra nós.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)
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