Eu amo o futebol, mas não posso ser um alienado por ele. Futebol deve ser diversão sadia para o torcedor, que precisa entender ainda que para o dirigente honesto e responsável, o esporte é um negócio que tem a finalidade de render dinheiro e fomentar empregos na indústria do entretenimento.
Portanto, sem romantismo ou saudosismo de outros tempos, deve-se entender que o fanatismo deturpa este entendimento lúdico e racional. Torcedor se "descabelar" e sofrer, é algo desnecessário. Chorar por um time de futebol? Pare com isso, não devemos nos estressar - afinal, o clube de futebol é uma entidade privada que visa lucro, não mais uma associação de pessoas que pensa em algo para se divertir. E daí lembremo-nos que os governos (federal, estadual ou municipal) não devem dar benesses a essas entidades, pois o dinheiro público deve ser para ações educacionais, de saúde ou outras mais relevantes.
Parafraseio o italiano Arrigo Sacchi:
"O futebol é a coisa mais importante dentre as coisas menos importantes".
Assim, cuidado com os espertalhões que querem transformar os torcedores em "frente de batalha", através de discursos demagogos (até porque, esses mesmos grupos de pessoas, um dia podem se rebelar contra a cartolagem que os usa). Quer exemplos?
Há inúmeros declamadores de "teorias das conspirações". Dos times grandes aos pequenos, você ouve coisas como: "Minha equipe é sempre perseguida pela FPF", ou, "A CBF sempre quer me prejudicar", ou ainda: "Sempre a juizada vem meter a mão no nosso time".
Repararam no "sempre"?
Ora, pense: diretores martelam esse discurso inflamando os torcedores que o replicam. E isso é subterfúgio para incompetência! Os cartolas não falam que contratam mal os seus jogadores, que gastam irresponsavelmente seu dinheiro, ou ainda que demitem treinadores que eles mesmo contratam errado e insistem num ciclo de contratação e demissão sem critério algum.
Todos os clubes reclamam de arbitragem, de organizadores, de tudo. Mas nenhum faz protesto por favorecimento quando eles ocorrem - e é lógico que ocorrem, pois se um time é prejudicado em campo, o adversário é quem se beneficia. Assim, quem perde chia, quem ganha se cala. E, por obviedade, tudo é discurso para mascarar a incompetência (os erros de árbitros e de organizadores acontecem, mas não na proporção reclamada, infinitamente mais fomentada para disfarçar).
Sabe o que assusta mais ainda?
Não conseguimos criar uma Liga de Futebol! Todos os países desenvolvidos no esporte não têm ingerência de uma federação ou entidade na elaboração do seu torneio principal. Vide: Premiere League, Bundesliga, La Liga, e por aí vai. Só aqui quem organiza é uma confederação, no caso, a CBF. Tínhamos o Clube dos 13, implodido politicamente e que, no máximo, tentou organizar a Copa União, que depois virou água...
Diante disso, como desenvolver o futebol ou redimensionar o Brasileirão? Temos dois “embriões de Liga” no país, a Forte União e a Libra, que repartem os times e não conseguem sinergia para um novo modelo de torneio mais rentável e com calendário adequado. Em vez de unirem forças, dividem.
Por fim, já que falamos em calendário: não é contraproducente a CBF e as Federações Estaduais determinarem quando, quais torneios e com quais elencos os clubes devem jogar? CBF e FPF exigem equipes titulares em seus torneios, mesmo não permitindo tempo para excursões ou pré-temporadas. E aceita-se isso passivamente...
Menos vitimismo, mais profissionalismo.
Rafael Porcari é professor universitário e ex-árbitro profissional (rafaelporcari@gmail.com)