OPINIÃO

O “cineminha” do Credi City


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Apesar de ter nascido em 1950, a televisão ainda engatinhava no final daquela década e início dos anos 1960. E era fundamental a propaganda como forma de divulgação de lojas e produtos. E Jundiaí teve um grande marqueteiro, focando sua propaganda na melhor maneira possível. Assim, no Centro surgiu o primeiro grande prédio da região, onde foi instalada a loja Credi City. Hoje, no local existe o Magazine Luiza, na rua Barão de Jundiaí, esquina com a rua da Padroeira. O texto poderia parecer mais um comentário jornalístico do que uma simples recordação de um tempo que só existe na memória de alguns. E a minha registra que, nesta época, por volta das 18 horas, quando a noite começava a chegar, a parede do prédio, localizada na direção da Catedral, no alto, à esquerda, tinha início a projeção de slides comerciais. Eram propagandas de lojas da região central, inclusive do próprio Credi City, muitas delas em forma de desenho animado. Mas tudo sem som. Rei das Roupas Feitas, Lojas Magalhães, Cines Marabá e Ipiranga, Cica eram algumas das propagandas exibidas e que a gente, da minha casa, na Vila Progresso, na avenida São Paulo, conseguíamos ver e que chamávamos de “cineminha”. A distância parece estranha, mas víamos sem problemas a exibição.

Não havia prédios nesta época, as árvores nas ruas ou não existiam ou eram pequenas, o que significava que não tinha como não ver o alto prédio do Credi City, bem no centro da cidade, projetando os slides comerciais. O melhor lugar para assistirmos era da janela do quarto de nossos pais. Subíamos, eu e meus irmãos, na cama, para ter uma visão melhor. Para não haver briga – e sempre havia... – uma vez cada um estava sobre a cama. O problema é que isso acontecia, como disse, no início da noite, o que significava que tínhamos que jantar. E meu pai era rigoroso com relação ao horário. E seis e meia era hora de jantar…

O curioso é que sabíamos a sequência dos comerciais... “Agora é da Cica... agora é do Rei...”, gritava um ou outro irmão, tentando adivinhar, mas já sabendo que iria acertar. E quem era mais rápido, vibrava com o acerto. Mas a exibição era rápida. Não passava de uma hora. A gente imaginava que era para chamar atenção de quem estava no Centro, saindo do trabalho ou procurando um dos cinemas para a sessão da noite. O horário de exibição só era prorrogado em dezembro, quando o comércio ficava aberto até mais tarde e o movimento no Centro era grande. Mas não tínhamos como assistir de casa, exatamente por conta do horário da janta. Então, uma vez por semana, pedíamos autorização para nossos pais para darmos uma volta na cidade, com a desculpa de ver vitrines. E, chegando perto da Catedral, ao lado da Galeria Bocchino, parávamos para ficar vendo o que chamávamos de “cineminha”. Mas neste local, um grupo grande de crianças fazia a mesma coisa. Os adultos passavam comentando o que a criançada fazia, mas seus olhos passavam pelo alto do prédio do Credi City. Só para ver que comercial estava sendo exibido...

Nelson Manzatto é jornalista (nelson.manzatto@hotmail.com)

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