OPINIÃO

O Cardeal e o celibato


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O Brasil tem novo Cardeal, é o arcebispo de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler, atual presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB. Foi o único brasileiro dentre os novos vinte e um príncipes da Igreja, que estarão no consistório do próximo dia 8 de dezembro, em Roma.

Logo que anunciada a boa nova, a mídia foi entrevistar o Cardeal. E o tema que surgiu na entrevista concedida ao jornalista José Maria Tomazela, do “Estadão”, foi o celibato sacerdotal.

Ele surgiu da indagação a respeito da falta de sacerdotes para cobrir a demanda de atenção espiritual. O questionamento não abordava a eliminação do celibato como condição para o desempenho sacerdotal, mas a possibilidade de ordenação de homens casados.

Dom Jaime respondeu que “o celibato é um aspecto que toca a disciplina da Igreja. Num determinado momento da história se percebeu que o sacerdócio católico convinha que fosse exercido por homens celibatários. Tal opção tem certamente seu valor. Não faltam setores, atualmente, no seio da comunidade de fé, que questionam o valor de tal opção. Isto certamente é positivo, pois implica a necessidade de ainda maior determinação no estudo e no aprofundamento do tema”.

Quanto ao fato de o celibato ser um inibidor para novas vocações na Igreja Católica, o Cardeal argumentou: “Creio também que não podemos nos deixar levar por opiniões ou posições de um ou outro grupo. O tema é certamente sensível e necessita de atenção. Por isso, ser simplesmente a favor ou contra o celibato, sem argumentação clara e objetiva, não ajuda no debate; só produz confusão. Verdade é que existem comunidades que passam meses – senão anos! – sem a celebração da Eucaristia. Tal situação requer respostas adequadas. O que fazer? Como responder a tais situações? Por onde caminhar? Eis o desafio que a Igreja está convidada a assumir”.

Sempre se faz a comparação com as confissões evangélicas, cujos pastores podem se casar. O crescimento delas é reconhecido pelo Cardeal Dom Jaime Spengler. Mas a questão do celibato, para ele, não pode ser vista como algo que favoreça tal avanço. “Isto seria se conformar com um simples dado estatístico e sociológico… A questão, creio, é mais ampla. Como nós estamos anunciando e testemunhando o Evangelho? A linguagem utilizada vai ao encontro do tempo presente? Dados recentes apontam que o número que mais cresce na sociedade são os indiferentes. Ou seja, pessoas que não se deixam atingir por qualquer mensagem religiosa. É um aspecto da disciplina eclesiástica que tem também implicações antropológicas, psicológicas e teológicas. Se trata de um tema delicado que necessita de aprofundamento, oração e recolhimento”.

Já ouvi de crentes de outras confissões que, ao escolher seus apóstolos, Jesus não os chamou apenas entre os solteiros. O celibato é algo distinto dos dogmas. Algo que não integra a essência da religião católica, apostólica e romana.

Humildemente, penso que o celibato deveria ser uma opção do sacerdote. Ele deve saber se conseguirá manter-se alheio à poderosa força do sexo. Quando não tem direito a escolher, poderá introjetar sérios problemas psicológicos, que não têm sido poucos e que representam novos espinhos na coroa com que o Cristo foi sacrificado em sua Paixão.

Enquanto essa disciplina perdurar, os neo-sacerdotes precisam de muita orientação e da oração de todos os fieis, para que não sejam motivo de escândalo e de frustração entre os que neles confiaram para entregar confidências e intimidades.

Orar para que sacerdotes sejam santos é uma obrigação de todos os católicos. Estes precisam também ser tolerantes e cultivar o perdão. A fraqueza humana é algo que não poupa ninguém. Nem os que foram ordenados. Perdoar e orar por eles é o que o bom cristão pode fazer.

José Renato Nalini é Reitor, docente da pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)

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