“Quando a velhice chegar, aceita-a, ama-a. Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida de um homem, Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos anos, estes ainda reservam prazeres”. Sêneca
Quem teve o privilégio de viver muito sabe que o tempo é um mestre muito caprichoso. Às vezes suas lições são repentinas que nos afogam, outras vezes elas depositam devagar, diante de nós como conta gotas, dons de sabedoria. Por isso quem teve o privilégio de viver tanto aprendeu a olhar com serenidade o turbilhão da vida. Tudo muda com o tempo. Os amores ardentes se extinguem, passos ágeis se rareiam, a paixão perde intensidade, a família começa ver os filhos distantes, as pessoas se tornam mais bondosas, até as urgências se acalmam. Mas a vida continua. Dizem os sábios que velhice nada tem que ver com o tempo. Que a natureza, em sua infinita sabedoria faz com que cada idade tenha sua própria juventude. E completam só uma coisa pode deixar a alma completa: o amor. E o amor é o único sentimento que não se deixa envelhecer. Namorar, beijar, abraçar, experimentar, dançar. O velho terno, nem o vestido decotado cheiram guardados. Ousam ficar bonitos. Não se entregam à saudade. Não dê fôlego à solidão. Esta suave energia se restaura, com a cumplicidade ao longo dos anos. Fruto de uma convivência que faz mais digna a vida. O prazer de dividir. O fortalecimento nas dificuldades. A emoção dos momentos felizes. O respeito à individualidade. O abraço dos amigos. A admiração mútua. A sagrada família os adoráveis filhos. A magia encantadora dos netos. Quem de nós não guarda, como num relicário, todas estas coisas que tocam nossa vida.
Dia destes fui num destes eventos. Pretendia apenas recolher algo disperso da formalidade destas homenagens. Visava algum circunstancial. Nesta perseguição, me surpreendi com esta gente. Não se pensa em doença, velhice e nem morte. Fiquei desconcertado. O sorriso largo, o entusiasmo envolvente. Não há lamúrias e nem lágrimas. Há uma vontade enorme de se viver por inteiro, sem pecados. Passei a observá-los. Ao som de uma canção de amor, seus olhares se enriquecem. Transfigura-se com os versos, que espelham seus sentimentos. Viajei no tempo. O inesquecível filme romântico. Aquele livro de romance. A doce troca de olhares. A ternura de mãos se achando. O primeiro beijo roubado. A suave paz de seu amor. Isto tudo não figura como lembranças. Não se diz incenso que perfumou a vida.
Mostra que beleza do amor é não ter idade. A essência deste amor é que jamais estamos só. Mesmo sós, ainda teremos a vida como companhia. Que me perdoem os incrédulos. Ostento com orgulho as marcas e as rugas esculpidas no meu rosto com o tempo. O prazer de amar a vida é um dever que temos que cumprir diante de nós mesmos. Percorri os olhos pelo salão. Satisfeito que a vida vale a pena. Como nos versos do grande Charles Chaplin, “você descobrirá que a vida ainda vale a pena, se você apenas sorrir.”
Guaraci Alvarenga é advogado (guaraci.alvarenga@yahoo.com.br)