Já tive a oportunidade de afirmar aqui que a verdade tem três versões, a saber: 1) a verdade de um; 2) a verdade do outro e 3) a verdade verdadeira.
Assim, sempre que depararmos com alguma manifestação duvidosa ante a não presença ao ato, temos que ter muito cuidado e atenção, pois que, em grande parte, a verdade sempre chega truncada (reduzida, aumentada ou inventada) contaminando seriamente eventuais medidas e compreensões.
Vivemos em regime democrático contando, por óbvio, com o direito de manifestação, opção, fala, orientação, preferências, opinião e tudo o mais desde que respeitados os limites de cada qual.
Infelizmente, muitas pessoas esquecem desses importantes detalhes e misturam as coisas pelo só fato de um ou outro formalizar ideia diferente, fazendo com que, de modo totalmente deselegante, chegam a ofender, sofrer bloqueio na rede social, olhares agressivos e tudo o mais, comprovando que os que assim agem, estejam e se comportem contrariamente a visão democrática.
Defender esse ou aquele não os tornam inimigos, muito ao contrário, até porque como sempre oportuna a seguinte indagação: “O que seria do azul se todos gostassem do amarelo?”.
O fato de, por exemplo, eu gostar do azul, não me torna inimigo daquele que gosta do amarelo! De mesmo modo, ainda que tal ocorra, se aquele que gostar do azul estiver ao lado do amarelo, não o exclui ou impede a continuidade da luta, especialmente longeva! Digo por mim, pois recebi mensagens absolutamente deselegantes, notadamente por pessoas que me conhecem há muito tempo e jamais imaginaria que tal ocorresse. Alertada, a pessoa implorou por milhares de desculpas que poderiam ser evitadas sem qualquer esforço, simplesmente por respeito pela trajetória.
Costumo dizer que se, por exemplo, contarmos no Congresso Nacional (513 deputados e 27 senadores) todos homens, o que seria das mulheres? Quem lutaria por elas? Solução: As mulheres devem integrar o parlamento. O que se pretende com essa fala? Ao permanecer do “lado de fora”, dificilmente se conseguirá criar, fiscalizar e até propor políticas públicas direcionadas ao segmento exata e justamente por não fazer parte do comando.
Nessa caminhada, o fato de integrar o alto escalão, não reduz, apaga ou elimina o foco da luta, muito ao contrário: é fundamental manter e prestigiar a inclusão.
Trago a experiência, entre outras, as que decorrem dessas crônicas, onde - ainda nos dias atuais - sou abordado nas ruas e também em rede social, por pessoas afirmando que passaram a enxergar as questões raciais de modo diferente porque não haviam pensado com esse recorte.
Há alguns anos, dois Colegas acompanhando uma das crônicas, um deles disse: “Mas o Eginaldo só fala sobre isso?” A resposta foi: “Se você provar que ele está errado eu acompanho sua fala.” É assim! Enquanto não olhar setores diferentes não se aplica empatia.
Nessa esteira trago outra situação interessante e certamente muitos já experimentaram: Eu tenho três filhos e quando das gravidezes, passei a enxergar muitas, mas muitas grávidas. Por quê? Simples: por que estava vivenciando aqueles momentos. Noutro, quando quebrei a mão, fiquei impressionado ao enxergar muitas pessoas enfaixadas, atualmente nem tanto porque não estou vivenciando! Façam o teste.
Ao tratarmos desse assunto, o convite que se faz é a clássica recomendação da prática da “empatia” e/ou estar mais próximo da realidade e da diversidade.
É muito fácil e confortável analisar, impor respostas e julgar em um ambiente luxuoso diametralmente oposto ao caso concreto. Por exemplo: não se exige que seja viciado em drogas ou tenha alguém próximo desse mal para avaliar as dificuldades que essas pessoas e familiares enfrentam; não é preciso ser mulher, LGBT, Negros, PCds, ... para avaliar os enfrentamentos, mas estar mais próximos dessa realidade.
Como sabemos, os detentores do poder, no mais das vezes, estão muito longe dessas realidades e não conseguem avaliar as demandas quando acontecem. A melhor solução é abrir oportunidade para que esses segmentos estejam incluídos para, inclusive, os letrar e bem assim praticar o teste do pescoço.
Eginaldo Honorio é advogado, doutor Honoris Causa e conselheiro estadual da OAB/SP (eginaldo.honorio@gmail.com)