Jundiaí é uma terra abençoada. Um dos motivos mais evidentes e justificados para considerá-la assim é situar-se em região servida por esse maciço incrível chamado Serra do Japi.
Acostumados a tê-la no nosso skyline, é normal não darmos a ela a devida importância. Foi preciso que o cientista Aziz Ab’Saber (1924-2012) se interessasse por ela e obtivesse o reconhecimento de que esse patrimônio merece preservação.
Estes dias, exatamente no dia 24 de outubro, celebrou-se o centenário de nascimento desse geógrafo nascido em São Luís do Paraitinga e a quem o mundo tanto deve, por seu empenho devotado à causa ambiental e ao estudo dos efeitos causados pelos impactos da ação humana sobre a natureza.
A Serra do Japi é um autêntico milagre. Estreita faixa de terra cobre um mineral desvalioso: o quartzo. Fora valioso e já teria sido destruída pela ganância. Mas nem por isso ela está imune.
Houve tempos em que a Prefeitura de Jundiaí expropriava áreas próximas, para que a especulação imobiliária não chegasse à zona de proteção que garante a inteireza da cobertura vegetal. Isso aconteceu nas gestões Walmor Barbosa Martins e Ary Fossen. Depois disso, não tenho tomado conhecimento de ampliação de área de domínio da municipalidade, o que garantiria, ao menos em tese, tutela mais efetiva sobre esse espaço de incalculável valia. Só vejo aumentar a densificação nas imediações, prédios ocultando o que antes era apenas verde. E relatos de que a defesa da Serra já não é tão eficiente.
Os sintomas de que isso merece especial atenção do Poder Público estão à vista. A ligação entre Jundiaí e Itu, hoje Rodovia Dom Gabriel Paulino Bueno Couto, converteu-se numa via de intenso trânsito. Condomínios se espalham por essa bela área e, com o adensamento populacional, a Serra passa a correr mais sérios riscos.
Pensou-se em criar uma polícia montada, nos tempos de Walmor Barbosa Martins, que era um amante da Serra. A exemplo daquela que existe no Canadá e que constitui uma das atrações turísticas daquele país para onde os brasileiros vão em viagens de estudo, e depois não querem mais voltar.
É preciso que as administrações municipais de cidades ocupadas pela Serra formem uma espécie de consórcio, para um tratamento comum e intensificação da defesa e maior eficiência dos instrumentos de salvaguarda de uma riqueza imprescindível à preservação da qualidade de vida dos jundiaienses.
O ranking de cidades que possuem atrações ambientais será cada vez mais importante no momento em que o mundo tiver de conviver com fenômenos extremos cada vez mais intensos e mais frequentes.
Cuidar de sanear as marcas da deterioração na Serra, como as manchas abertas por desmatamento irregular, por incêndios criminosos, por erosão e outros, é obrigação das municipalidades. Hoje, com os drones e com o serviço de satélites, é possível acompanhar diariamente o que ocorre de preocupante ou de lesivo para um conjunto natural inexistente em 99,99% das cidades brasileiras.
Simultaneamente, Jundiaí precisa incluir como tema transversal em todas as escolas aqui situadas, o ensino obrigatório da importância da Serra do Japi para o microclima local. E convencer os estabelecimentos particulares para que atuem de idêntica forma. Inclusive com premiação de trabalhos destinados a fornecer estratégias de efetiva tutela desse patrimônio que não pode desaparecer, a nossa Serra do Japi.
Há muito a fazer. Não se justifica a omissão, num município tão rico e tão orgulhoso de ocupar vários rankings, como é o nosso, querida Jundiaí.
José Renato Nalini é reitor, docente da pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)