OPINIÃO

Ansiedade e distrações da vida cotidiana


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O desafio de se deparar com inúmeras novidades e transformações tecnológicas diariamente está trazendo desconforto com o aumento significativo da ansiedade, principalmente nas novas gerações. Estudos recentes relatam que esse fenômeno tem estreita relação com as mudanças rápidas na tecnologia, a pressão das redes sociais, a instabilidade econômica e a competitividade exacerbada.

A necessidade de acompanhar tudo o que é publicado pelas mídias sociais, seja pelo entretenimento ou pelo trabalho, tem deixado as pessoas em estado de alerta. Basta ouvir o chamado do celular que o cérebro para tudo o que está fazendo. Adeus, foco. A atenção se volta para o aparelhinho, que normalmente está posicionado bem próximo ao seu proprietário. A distração também está se tornando um desafio: dedo em riste sobre a telinha, sempre preparado para o próximo evento, e o próximo, e o próximo...

A inquietação cerebral se alastra para o corpo: impaciência, preocupação, aflição, agonia, angústia, apreensão, desassossego, inquietude, estresse, ansiedade. A sociedade moderna está fortemente associada ao aumento da ansiedade, tanto em adultos como em jovens, devido à sobrecarga de informação, pressões sociais e insegurança financeira. Observamos essas características, inclusive, no ambiente escolar, com as exigências acadêmicas, o bullying e as expectativas familiares. O comportamento ansioso é, em grande parte, reflexo de uma cultura que exige produtividade, sucesso e validação constantes, enquanto oferece poucas oportunidades para recuperação e relaxamento.

As mídias sociais alimentam a ilusão de sucesso e felicidade, com as pessoas exibindo suas melhores versões. A comparação constante com outros, a busca por validação através de "gostos" e a exposição a padrões irreais de beleza e sucesso agravam sentimentos de inadequação e insegurança. Ficamos totalmente entregues, conectados e envolvidos com as distrações digitais. O nosso entorno – pessoas de carne e osso, trabalho e a própria vida – parece só ter sentido se a foto ou vídeo estiverem devidamente produzidos, afinal, é para isso que existem os filtros, e receberem likes em suas publicações. Sim, somos ótimos! Mas precisamos conseguir ver além. Também temos muitas faces. Talvez algumas delas não sejam tão belas...

A cegueira para o mundo real tem provocado sintomas físicos e mentais. As pessoas estão adoecendo. A ansiedade manifesta-se frequentemente por meio de palpitações, sudorese e tensão muscular. Já os sintomas cognitivos são detectados por preocupação constante, dificuldade de concentração e até insônia. O corpo reflete e emite uma resposta ao que é percebido como uma ameaça iminente, mesmo que não haja perigo concreto.

A alternativa para tanto estímulo é tirar um tempo e ficar em silêncio, tentando escutar a voz interior. Tanto no Budismo quanto no Hinduísmo, as distrações são vistas como desafios naturais que todos enfrentam, mas que podem ser transcendidos através de práticas espirituais disciplinadas. O Budismo ensina que fazer comparações e ter o desejo de ser como o "outro" são armadilhas da mente que criam apego e mais distração. A prática de meditação nos ajuda a observar nossos impulsos sem nos identificarmos com eles, permitindo que vejamos a natureza impermanente e ilusória das interações digitais.

Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora
(rosangela.portela@consultoriadiniz.com.br)

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