OPINIÃO

Um amanhã verde ou nada!


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Se houver um amanhã, ele será verde. O aquecimento global ainda vai provocar desastres que deixarão saudades daqueles que a humanidade já enfrentou. O ponto de inflexão parece ter sido ultrapassado. Cegos e surdos às exortações científicas, agora é a natureza que fala. Ela ruge, ela esbraveja, ela produz fenômenos extremos que se tornarão mais frequentes e mais intensos.

É preciso ter coragem para permitir que a vida humana continue presente nas insensatas conurbações produzidas pela especulação imobiliária. Para lidar com o calor constante e ascendente, além dos trinta e cinco e dos quarenta graus, será preciso devolver à natureza o que dela se subtraiu. É urgente o investimento massivo em áreas verdes.

Todas as cidades deverão fazer isso. É claro que em megalópoles o drama será maior. Mas também elas deverão passar por essa transformação. Cada município haverá de se esforçar para se tornar referência em sustentabilidade. Não é uma questão de paisagem, de beleza, de padrão urbanístico. É uma questão de sobrevivência.

Continuamos a construir de forma errada. Nossas construções limitam o fluxo de vento, retêm bolsões de calor. Mesmo em condomínios de luxo, as casas são construídas umas junto às outras, sem árvores, sem vegetação, sem um palmo de sombra dentro da edificação ou nas calçadas e ruas.

Plantar mais árvores, criar espaços verdes, é a única maneira de reduzir a temperatura de uma cidade. Os arquitetos já sabem que precisam gerar projetos que prestigiem o verde. As construtoras podem até ganhar mais dinheiro, edificando menos do que o exigido pelos contratantes, mas mostrando a eles que uma casa com vegetação valerá muito mais e será mais procurada por aqueles que queiram viver mais. E com maior qualidade de vida.

O botânico e paisagista Ricardo Cardim adverte, constantemente, que não é adequado substituir grandes árvores por “árvores anãs”. Estas não exercem o seu papel de sequestradoras de carbono como as superárvores. E a municipalidade tem de exigir das egoístas concessionárias da energia elétrica que substituam a fiação aérea por fiação subterrânea, como acontece nas cidades civilizadas, para que as empresas fornecedoras não culpem as árvores por incompetência delas.

O trabalho gratuito que as árvores prestam é hoje o mais importante para que a humanidade continue a trajetória neste sofrido planeta. Elas sequestram gás carbônico e outros venenos expelidos por essa praga chamada combustível fóssil e ainda produzem água. Sem árvore não há chuva, não há sombra, não há beleza, não há vida.

Também é preciso multiplicar os reservatórios de água da chuva, ressuscitar os córregos que foram enterrados para dar lugar ao mais egoísta dos meios de transporte, o carro, salvar as nascentes.

Uma gestão corajosa multiplicaria os lagos, os chafarizes, as “ilhas de chuva”, que são pequenos espaços devolvidos à natureza e que podem tomar a forma de “vagas verdes”. Ou seja: não é necessário reservar tanto espaço para os automóveis. Algumas vagas podem ser substituídas por jardins. E, de preferência, não com grama apenas – o que já seria bom para o escoamento da água – mas com verdadeiras árvores. Estas sim, a prestar o inestimável serviço ecossistêmico de garantir temperatura amena, sombra salvífica e água pura. Quanto mais verde uma cidade tiver, menos poluição ela registrará. Investir nisso valoriza uma administração.

Em síntese: ou o amanhã será verde, ou não haverá amanhã. Esta não pode ser a opção de pessoas inteligentes.

José Renato Nalini é Reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)

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