Não é fácil ser negro independente da aparência, formação cultural, condição financeira, moradia, religião, mercado de trabalho, saúde, segurança pública, educação formal, justiça, política, direitos humanos etc.
Tive a oportunidade de tecer comentários a respeito desses itens nestas crônicas e também a satisfação e orgulho de, de quando em vez, alguém me abordar afirmando que, (sem falsa modéstia) a partir desses comentários, passaram a refletir com mais atenção a esses fenômenos, chegando até a direcionar comportamentos, olhares, respeito e compartilhamento dessas posturas, combatendo posicionamentos discriminatórios. Envaidecedor sem dúvidas!
Tenho notado também que, apesar das medidas adotadas no combate a discriminação, essas maldades ainda se repetem. Qual a razão disso? Isso só pode ser resquício da maldade imposta debaixo da alegação da supremacia branca o que - graças a tudo de bom que existe - a cada dia vem reduzindo na medida em que as vítimas dessas maldades passaram a integrar postos de mando e em ambientes onde conseguem expor suas demandas, razões e soluções.
Somos – para quem não sabe – seres humanos com erros e acertos e, muita vez, erros por desconhecer que determinadas atitudes tipificam discriminação e ampliam a ideia de que ainda somos coisas e desprovidos de qualidades iguais (ou melhores). Prova disso são algumas expressões que depõem contra autoestima e ainda repetidas no dia a dia. Certa feita, acompanhando, por exemplo, sessão da Câmara Municipal, um dos integrantes insistia em usar a palavra “denegrir”, até que, após minha intervenção, o parlamentar, afirmou que excluirá a palavra do dicionário, substituindo-a por arranhar, macular, ofender, manchar, sem que se faça alusão ao termo que define um povo na medida em que vincula tudo que é de ruim a raça negra.
Ser negro obriga atenção redobrada a todo momento, em todos os lugares e, mesmo quando as ofensas ocorrem, nem sempre a vitima mantém a frieza suficiente para produzir prova da discriminação suficiente a levar às barras da Polícia e da Justiça, até porque, no mais das vezes, o ofensor sabe que incorre em crime tanto que agem às sombras e sem testemunhas! Reparem.
A dor experimentada pela vítima de ofensa racial fica na retentiva da memória e não se apaga com facilidade, fazendo com que a atenção se redobre por todo o tempo, gerando até obsessão, o que não causa estranheza porque as ofensas se repetem com muita frequência e muitas pessoas não se atentam dado a sutileza do ofensor.
Ressalto aqui que a maldade contra os negros escravizados além de sutil foi estratégica com o fim de dificultar a construção da árvore genealógica, vez que, ao aqui chegarem, além de lhes desmantelar a família e seus laços, passaram a adotar o patronímico de seus donos dificultando sobremaneira a prova de que eram descendentes de reis, rainhas, imperadores, grandes sacerdotes, médicos, astrólogos, engenheiros, matemáticos e detentores de muito conhecimento, maldosamente tratados enquanto coisas e que até nem alma tinham, sem perder de vista que todos os registros de entrada desse contingente foi destruído!
Mudanças estão chegando a partir da revisão do material didático e com efetiva implementação da lei que obriga o ensino da história africana, afro-brasileira e indígena, cujas disciplinas - em sendo bem implementadas - certamente reduzirão essas maldades e desigualdades que assolam o nosso País.
Nesse sentido e para fechar a crônica de hoje reitero a informação de que o único candidato a prefeito de Jundiaí que assumiu oficial e publicamente compromisso com a comunidade negra foi Parimoschi, ao qual apresentamos 52 proposituras diretamente relacionadas à Cultura, Educação, Esportes e Saúde as quais passam a integrar o plano de governo.
Ser negro não é nada fácil e ainda que diante das recentes mudanças, penso que somente após intensas medidas de letramento (educação especifica) junto aos organismos competentes (legislativo, executivo e judiciário) é que se conseguirá reduzir todas essas máculas.
Eginaldo Honorio é advogado, doutor Honoris Causa e conselheiro estadual da OAB/SP (eginaldo.honorio@gmail.com)