OPINIÃO

Casa de Saúde Dr. Domingos Anastácio


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Como um sapato que não cabe no pé, de maneira nenhuma, mas se força pra que caiba para prolongar seu uso, foi a receita do projeto para o Hospital São Vicente que ocupa a parte histórica do Edifício sede da “Fratelanzza Italiana”, antiga Casa de Saúde Dr. Domingos Anastácio, que tem a fachada tombada e que foi, visivelmente, desrespeitada.

?E o que o que se pretende é aprovar uma concepção de reforma que não tem nenhuma consideração pelo bem que está tratando, nem para qualquer prédio público. Um projeto medonho que insistem em realizar. Aliás, já sendo executado sem a aprovação do Conselho de Patrimônio Histórico e Cultural e agora quase que sendo forçada à análise pelos conselheiros.

?A formação de associações italianas de Mútuo Socorro no Brasil foi parte importante da experiência migratória dos milhares de italianos que se estabeleceram temporária ou definitivamente no país a partir de 1860. De 1870 a 1935, existiam 34 na cidade de São Paulo, sendo quatro em Jundiaí. A maioria se extinguiu na década de 1920 e teve grande importância na organização dos imigrantes e dos operários imigrantes italianos e suas famílias. Essas sociedades foram precursoras do SUS, pois não havia atendimento médico fora dessas associações, também tiveram um papel associativo e político importante na cidade, reivindicando obras e melhorias no bairro até participações em greves operárias, como escrevi em meu artigo neste jornal e publicado no dia 25/03/2023.

?O edifício “está listado no Inventário de Proteção do Patrimônio Artístico e Cultural de Jundiaí (IPPAC) com o Grau de Proteção 02, destinado aos elementos arquitetônicos dos imóveis representativos de determinado período histórico e respectiva técnica construtiva; também está inserido no Polígono de Proteção do Patrimônio Histórico” e tem todos os valores para ser conservado e preservado.

?A praça em frente, pronta com sua configuração, já perdeu todos os desenhos que caracterizam o lugar, inclusive com áreas agora concretadas, onde antes haviam muito mais áreas de absorção de chuva. O que acontece na cidade, e com os sucessivos governos, é que na ausência de manutenção as praças decaem até o limite para serem reformadas e entregues para a população novinhas, o que só demonstra que não foram devidamente cuidadas.

?Os Conselheiros que foram informados desse projeto na última terça-feira, insisto, não tiveram o tempo necessário para a avaliação, nem para a formação de grupo de estudo para um parecer. O acúmulo de funções gera, inevitavelmente, conflito de interesses. Não houve o rito convencional de colocar em pauta previamente para análise, mas de última hora abriu aos conselheiros que, em maioria representantes do poder público, aceitaram discutir o projeto.

?Ocorre que as intervenções são péssimas e já acabaram com a lateral onde se situava a maternidade do Hospital. O lugar está com enormes interferências de plástico azul, o que concorre negativamente com o bem, e contraria as posturas do conselho em relação ao emprego desse material nas áreas de comércio no Centro Histórico.

?Como por diversas vezes, inclusive em meu artigo do dia 25/03/2023, alertei o Compac para que intercedesse e parasse as obras na fachada da antiga Casa de Saúde Dr. Domingos Anastácio, mas nunca foram aceitas. As obras não pararam e agora se pretende aprovar às pressas esse projeto que, lamento pelo arquiteto responsável, não é de restauração e não respeita nenhuma carta internacional que recomenda ações de projeto em área de bens tombados. As peças se sobrepõem grosseiramente ao bem. Triste final de um bem histórico.

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)

Comentários

3 Comentários

  • José Antônio Ungaro 14/10/2024
    Passando pela praça que na minha mocidade se chamava Jardim das Rosas senti a tristeza de ve-la totalmente descaracterizada e acimentada como tem sido feito com as demais praças que existiam naquela época em Jundiaí. Quando se observa que nossa cidade não conta com um jardim característico das cidades antigas, e vem a muito tempo reformando os poucos que haviam na sua área central , acabando com sua área verde, descaracterizando a paisagem e contribuindo para aumentar a poluição, sinto que o ambiente urbano só tende a degradar-se com o ímpeto do progresso sem planejamento ambiental adequado. Triste fim para as praças que conheci na minha infância na área central da cidade.
  • Regina Kalman 14/10/2024
    Quanto a praça D. PEDRO II, ou a praça das Rosas, em frente do Hospital S. VICENTE , foi apresentado ao Conselho Municipal do Patrimônio- Compac o projeto depois de pronto, sem uma análise anterior, para poder discutir sem a parcialidade de membros da sociedade civil. Assim o local foi realizado sem os cuidados de deixar espaço para o escoamento das águas fluviais, pois tudo foi cimentado , deixando pouco espaço para o jardim, sem as rosas atualmente. Num lugar onde estamos quase no deserto de escoamento das chuvas, desrespeitando o planejamento urbano, principalmente no cento historico.
  • Regina Kalman 14/10/2024
    O hospital Dr Domingos Anastácio, começou como Fratellanzza do Multuo Socorro pela colônia italiana em 1924. Estava a sua fachada protegida pelo Ippac desde 2008, conforme registro realizado pela estão Secretaria Municipal do Planejamento e Meio Ambiente, sob o número 20, processo 15774/2008 em 06/06/2008. grau 02, portanto, preservação da fachada. No entanto foi apresentado para o Compc somente depois da internação realizada. O interesse é mais político do que preservação da memória histórica do local.