OPINIÃO

Romeiros de primeira viagem


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Neste mês de outubro celebramos com alegria a festa da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. A Mãe de Jesus veio nos visitar através de uma pequena imagem da Virgem da Conceição e, através dela, fez com que as raízes de nosso povo se consolidassem a partir de uma experiência profunda e duradoura de fé e devoção. A primeira romaria a Aparecida é sempre inesquecível! Como é emocionante dobrar as curvas da estrada sinuosa e vislumbrar atrás dos montes a cúpula da Basílica Nova. Muitos de nós trazemos esse momento na memória como algo marcante em nossas histórias. Ir à casa da Mãe do Senhor e permanecer alguns instantes diante da pequenina imagem de negra cor é confrontar-se com um modo peculiar com o qual Deus atende as demandas de sua gente. 

O que buscamos quando vamos à Aparecida? Muitos viajam por centenas de quilômetros para agradecer por uma graça recebida, uma vaga de emprego alcançada, uma conquista pessoal. Outros, rumam à casa da Mãe para suplicar a cura de uma doença, a recuperação depois de um acidente, ou um milagre que aos olhos humanos seria inalcançável. Entretanto, todos que chegam a Aparecida, trazem na bagagem algo em comum: o desejo de encontrar-se com a imagem da Mãe do Senhor! A pequenina imagem de pouco mais de 30 cm da Virgem da Conceição Aparecida, resgatada no Rio Paraíba do Sul em 1717. Deparando-se com Nossa Senhora, cada fiel romeiro descobre um sentido novo para sua caminhada. Não há quem não retorne com alegria e repleto de sentido para sua casa após rezar por alguns instantes diante da Virgem de Aparecida. 

No dia 16 de julho de 1930, o Papa Pio XI proclamou Nossa Senhora Aparecida como padroeira de nossa nação. Esse gesto é de grande importância pois destaca o papel fundamental da Virgem Maria como aquela que faz a síntese da religiosidade do povo brasileiro. Por isso, quem vai a Aparecida, enxerga em cada milagre um pedacinho da vida de Nossa Senhora. 

Em Aparecida, Maria é simples com os simples. Fala como eles e para eles, com uma linguagem que apenas os humildes entendem. 

Em Aparecida, Maria é a primeira a nos ensinar a percorrer as periferias existências da humanidade, como nos ensina o Papa Francisco. Nela, a fé dos pequenos ensina a resistir às situações de morte e de injustiça que ainda prevalecem como chagas abertas e perturbadoras de um país tão desigual como o nosso. 

A fé de Aparecida brota da força efervescente e originária de uma multidão de anônimos, os anawin, os pobres do Reino, que mergulhados na dinâmica redentora de Jesus, atravessam a passarela de Aparecida de joelhos, ou com o terço nas mãos, suplicando à Mãe de Jesus a coragem para continuar lutando.

A devoção a Nossa Senhora tem um lugar muito especial na teologia e na Tradição da Igreja. O modo como as aparições marianas, no decorrer dos séculos, alimentou a espiritualidade e a mariologia fez com que, pouco a pouco, Maria recebesse inúmeros títulos e devoções próprias. Todas elas têm sua importância. Celebrá-la é recordar que, no Brasil, Maria quis ter a nossa face, quis se parecer conosco. 

Maria é tão simples! Em Aparecida a Maria dos Evangelhos é nítida e evidente! Por isso, recomendo que cada fiel de nossa diocese, que ainda não foi a Aparecida, tente fazer um esforço de visitar a casa da Mãe do Senhor! Aprendemos tanto nas romarias, nas procissões, nas caminhadas! Lá, na casa da Mãe, estamos sempre em casa! Lá somos sempre acolhidos pela beleza que reluz das coisas simples! Lá nos sentimos brasileiros! 

Que a Virgem Mãe Aparecida nos agracie sempre com sua poderosa intercessão!

E que sob seus pés todos nós nos sintamos como romeiros de primeira viagem!

Dom Arnaldo Carvalheiro Neto é Bispo diocesano de Jundiaí

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