O Chile tem um décimo da população do Brasil. Contudo, já possui 2.310 ônibus elétricos. A Colômbia tem 1.590 e o México 654. O Brasil tem 444. O que justifica este atraso numa providência tão importante para caminhar rumo à descarbonização?
Alega-se o alto custo dos veículos, a infraestrutura de operação e o boicote dos defensores do uso do combustível fóssil que continua a envenenar o planeta.
O governo diz que o Novo PAC Seleções prevê dez bilhões e seiscentos milhões, além de condições especiais de financiamento para municípios e Estados renovarem suas frotas com veículos elétricos.
Cerca de dezesseis municípios ou regiões têm esse veículo a circular. Outros cinquenta municípios e regiões metropolitanas dispõem de recursos liberados para aquisição de ônibus elétricos via PAC. Só que parte deles ainda não fechou contrato de financiamento e aquisição. Ainda que todos o façam, o Brasil continuará na rabeira.
Salvador, até dezembro de 2022 tinha oito ônibus elétricos em circulação e adquirirá mais 94 via PAC. Campinas vai contratar financiamento para comprar 258 ônibus elétricos, a maior oferta via PAC. Em seguida, Uberlândia, que comprará 216. Belo Horizonte e Porto Alegre podem chegar a cem.
São Paulo, a capital, quer eletrificar 20% da frota até final de 2024. Isso significa saltar de 220 ônibus elétricos para 2,4 mil. Só que o transporte é algo de competência federal e os entraves burocráticos atrapalham a planificação e execução do projeto. Assim como exagero nas exigências ditas de segurança, consideradas anacrônicas e inspiradas pelas montadoras de veículos tradicionais, os poluidores, que ainda são maioria.
A proposta federal de destinar recursos exclusivamente para a renovação de frota de ônibus mediante compra de modelos elétricos é um acerto, para todos os preocupados com a emergência climática. Mas o Brasil ainda se ressente de uma política nacional mais direta, proativa, ampla e comprometida, de fato, com a eletrificação e melhoria do transporte. Por isso temos ônibus velhos, envelhecidos, com motores menos regulados, ausente qualquer conforto para o usuário.
O transporte coletivo precisa ser melhor para que os usuários deixem seus carros, os veículos mais egoístas que possam existir – conte o número de automóvel com um só passageiro a circular em nossas cidades – e optem pelo ônibus, pelo trem ou pelo metrô.
Chile e Colômbia só conseguiram bons resultados, porque fizeram campanha maciça de mobilização e conscientização da sociedade civil. Em conurbações como São Paulo e a crescente mancha cinza que aos poucos liga a capital a Campinas, engolindo Jundiaí, e de Sorocaba, e de São José dos Campos, o transporte rodoviário é o maior responsável pelo total de emissões de gases poluentes no Brasil.
A população precisa ser alertada de que a humanidade caminha, celeremente, para a extinção. Por isso, a Plataforma Brasil Participativo tem de ser utilizada pela cidadania lúcida e consciente, para votar e criar propostas para o plano clima, que também vai cuidar do transporte.
O governo federal lançou o Programa Nacional de Mobilidade Verde e Inovação – Mover. Mas, oito meses depois da liberação de financiamento pelo BNDES, para compra de 1.600 novos veículos, apenas 160 chegaram às ruas. Além de tudo, o Brasil perde mercado. Chile e Colômbia compravam ônibus convencionais nossos, até que a China passou a oferecer modelos elétricos ao mesmo preço. Perdemos essa chance. Vamos continuar no atraso? Que vergonha, Brasil!
José Renato Nalini é reitor, docente da pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)