A maldição em tempos de extrema exposição nas mídias sociais é a cultura do cancelado dentro das redes. O medo de ser "cancelado" – ou seja, exposto e punido publicamente por uma opinião ou atitude controversa – tem gerado uma paralisia social, em que muitos evitam expressar opiniões ou agir para evitar críticas públicas. Isso resulta em autocensura e um discurso cada vez mais homogêneo.
Os algoritmos colaboram para que as “tribos” afins permaneçam unidas em uníssono, dentro de uma bolha, sem permissão para a reflexão de ideias divergentes. As pessoas se cercam de opiniões semelhantes às suas. Isso diminui a exposição a pontos de vista diferentes, tornando o contraditório mais desconfortável. A falta de contato com visões divergentes pode reforçar o desejo de evitar qualquer tipo de discordância. A era digital nos acostumou com respostas e soluções rápidas. A chamada cultura da imediatidade e da recompensa imediata gera uma expectativa de gratificação sem espera, o que pode criar uma baixa tolerância à frustração. Quando as coisas não saem como o esperado, há uma reação negativa ou um desejo de evitar qualquer tipo de confronto.
O bem-estar emocional e mental é cultuado com grande ênfase, o que é positivo por um lado, mas, por outro, pode criar uma aversão ao desconforto necessário para o crescimento pessoal e profissional. Confrontar ideias ou lidar com contrariedades muitas vezes fazem parte desse crescimento. A observação de que as pessoas estão cada vez mais sensíveis a contrariedades e evitam ser contrariadas é um tema relevante, especialmente no contexto atual, no qual o comportamento social é moldado por diversas influências, como o aumento da individualização, a cultura de conforto emocional e a comunicação digital. Alguns teóricos sugerem que há um aumento na chamada “fragilidade emocional”, em que a capacidade de lidar com críticas ou desafios é menor do que em gerações anteriores. A falta de preparo para lidar com frustrações desde a infância, quando muitos pais evitam contrapor os desejos dos filhos para protegê-los de desconfortos.
No Brasil, o cancelamento nas redes sociais reflete a crescente influência das plataformas digitais como ferramentas de mobilização e julgamento público, com figuras públicas e empresas sendo responsabilizadas quase que instantaneamente por suas falas e ações. O cancelamento pode ter uma série de consequências, incluindo perda de emprego ou oportunidades profissionais com a perda de contratos ou oportunidades de parcerias. Boicote público das fãs ou seguidores de figuras públicas ou marcas que consideram "canceladas", afetando diretamente suas receitas ou popularidade. Exposição à humilhação pública, com consequências de longo prazo em suas vidas pessoais e profissionais.
O medo de conflitos e cancelamento são temas profundamente conectados ao cenário atual, principalmente com a crescente influência das redes sociais e a cultura do cancelamento. O medo desses fenômenos afeta a comunicação assertiva, as relações interpessoais e o ambiente corporativo. O cancelamento nas mídias sociais revela o poder das redes de moldar a opinião pública e como ações passadas e presentes podem resultar em consequências permanentes.
Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora
(rosangela.portela@consultoriadiniz.com.br)