Esse show de horrores que vimos na última semana, com candidatos a prefeito de São Paulo se digladiando verbalmente, com direito a cadeiradas nos adversários, nos remete às lutas romanas, em que o gladiador tinha que literalmente matar seus adversários (muitos primeiros cristãos foram mortos dessa maneira). Ganhar ou perder a qualquer custo parece ser a tônica dos postulantes midiáticos de agora, como se a política fosse somente um jogo egocêntrico e individual. E nossa pobre sociedade, que mal sabe ler e versa para o sectarismo, busca uma solução sebastiana para ficar longe dos políticos profissionais e sonha com um líder mágico, que vende o país do faz-de-conta.
Os formatos dos debates televisivos pouco avançam na construção de políticas públicas e soluções que caibam nos orçamentos municipais. Ali, é um espaço propício para as ofensas, com pouco tempo para propostas que tenham cabimento e sejam exequíveis. Vejam: o candidato pode dizer que irá construir mil creches, mas ele mostra de onde sairão os recursos?
Não se enganem, o orçamento público é um arcabouço de diretrizes, com verbas carimbadas e repasses que vêm diminuindo ano a ano. Em nossa RMJ (Região Metropolitana de Jundiaí), no ano que vem, teremos menos recursos financeiros, já que a arrecadação de ICMS vem caindo, assim como os repasses federais. O candidato pode prometer até o mundo, mas, se não houver recursos, ele não vai fazer nada.
Obviamente, podemos votar em candidatos que priorizem este ou aquele tema. Mas, quando falamos, por exemplo, de mais vagas em creches, é preciso que eles mostrem como será o orçamento para a obra, a manutenção anual e o pagamento dos profissionais. O mesmo vale para hospitais e prontos atendimentos – construir é fácil, manter o funcionamento é o verdadeiro desafio.
No debate ideal, o candidato teria que apresentar e mostrar a projeção orçamentária para seus projetos. Sabemos, é claro, que faltam creches, hospitais, atendimento a pessoas com deficiência, centros de autismo e habitação popular. Mas, sinto muito, como vamos solucionar essas questões com o recurso que temos?
Assim, senhores candidatos, façam as contas. Munícipe, não seja enganado. Podemos e devemos gastar melhor, mas os recursos carimbados precisam ser direcionados para saúde, educação, assistência social, entre outros. Melhorar a eficiência do uso dos recursos é outra etapa que precisamos discutir, com governança, compliance e gestão. Pergunte ao seu candidato como ele pretende gastar melhor o recurso municipal. Quais são as ferramentas de Inteligência Artificial que ele vai usar? Como ele vai diminuir o custo do lixo, aumentar a reciclagem e realizar uma maior coleta seletiva, remunerando quem reciclar o lixo (como fazem na Alemanha, por exemplo)? Como a tecnologia irá apoiar a jornada de saúde do cidadão, com consultas preventivas online e decisões conjuntas entre as unidades de saúde? Como evitar excessos no sistema? E como priorizar urgências?
Pergunte sobre a qualificação do servidor público, peça essencial na gestão da cidade. Sobre escolas em tempo integral na periferia, vagas prioritárias para creches em comunidades, e programas de qualificação para pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Um debate ideal consiste na apresentação de projetos que caibam no nosso bolso. Ofensas pessoais só perpetuarão essa política que enriquece apenas uma classe neste país – e você sabe a qual estou me referindo. Que façamos nossas escolhas com consciência!
Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em ESG e Sustentabilidade Corporativa pela FGV e editora-chefe do Grupo JJ de Comunicação.
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