OPINIÃO

Vamos levar a compostagem a sério?


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O Brasil perde dinheiro ao não separar adequadamente os resíduos sólidos. Somos um país do desperdício. Jogamos fora tudo o que poderia ser reaproveitado e que resultaria em melhor destinação do dinheiro do povo. Como dizia Churchill, “o Estado não tem qualquer quantia que lhe não tenha tirado antes”. Margareth Thatcher repetiu até mais enfaticamente: “Governo não produz riqueza. Só funciona com o uso da contribuição do povo”. Se o povo fosse mais preparado, fiscalizaria com rigor a utilização do resultado de seus impostos.

Poucas cidades têm um projeto consistente de reciclagem. Principalmente da reciclagem urbana, mais conhecida como compostagem. Ela diminui a quantidade de substâncias orgânicas levadas aos aterros sanitários, fornece adubação para arborização urbana e reduz a emissão de metano, de que o Brasil é o quinto maior emissor no mundo.

Se o município for inteligente, ele economizará recursos do orçamento reservados a contratos de limpeza e optará pela compostagem, que é mais barata e sustentável. E isso é muito fácil de fazer, em toda cidade. Ela ainda é mais barata quando descentralizada. É melhor ter lugares pequenos do que pátios gigantescos. O Ministério do Meio Ambiente já financiou trinta projetos municipais com editais para implantação de programas de compostagem e prepara uma Estratégia Nacional de Resíduos Orgânicos Urbanos. Isso previne o desperdício de alimentos e também produz fertilizantes naturais, contribuindo com a eliminação dos malditos “lixões”, fonte de perda de qualidade de vida e de disseminação de enfermidades.

São Paulo, a capital, tem um programa interessante. Sobras de feiras livres e poda de árvores se transformam em adubo orgânico. Agentes de limpeza recolhem as sobras de frutas, verduras e legumes das feiras e as encaminham para os pátios. Ali, os resíduos são misturados com os resíduos das podas de árvore e palhas. A mistura é disposta em leiras e cobertas por mais palha. Ocorre o processo de compostagem em dois meses. Ao final, as leiras são revolvidas, é retirado o composto orgânico, usado em jardins e praças públicas e distribuído gratuitamente para a população.

Uma sólida educação ambiental faria com que a população toda se interessasse por projeto análogo que, no fundo, abateria a fome fiscal da cidade. Formar mão-de-obra para os catadores, encarregados da coleta do material orgânico, e dos operadores da compostagem, daria emprego para muitas pessoas. É um projeto ambientalmente correto, sustentável, econômico e de prevenção dos efeitos danosos das emergências climáticas. O Marco Legal do Saneamento já prevê a compostagem, no Decreto 10.936/2022. O parágrafo 1º do artigo 8º dispõe que o sistema de coleta seletiva, de acordo com as metas estabelecidas nos planos de resíduos sólidos, “estabelecerá, no mínimo, a separação de resíduos secos e orgânicos, de forma segregada dos rejeitos”.

Existe uma Associação Brasileira de Compostagem, que pode ajudar a orientar a Prefeitura interessada. E o Instituto Lixo Zero também oferece formação para a laboriosa categoria dos “embaixadores lixo zero”. De igual forma, funciona a Plataforma Brasil Composta Cultiva, iniciativa do Instituto Polis com apoio do Fundo Global Methane Hub e em parceria com o Ministério do Meio Ambiente. Cidades inteligentes usam fórmulas inteligentes para administrar a excessiva, nociva e perdulária produção de resíduos sólidos.

Nossa cidade leva a sério a compostagem? Você colabora com ela? Tem acompanhado o que se faz no lugar em que você vive? O que pretende fazer a respeito?

José Renato Nalini é Reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)

Comentários

1 Comentários

  • Wisler José Negrão Serigatto 14/09/2024
    Gostei desse artigo, é um convite e um estímulo à população, com um todo. Aquí, em minha cidade (Jundiaí) há um projeto semelhante ao citado, pelo desembargador Nalini, utilizando resíduo de podas de rua. A compostagem gerada alimenta, não somente, plantas de projetos desenvolvidos em praças, como também uma horta gerida pela Prefeitura, tempos atrás as verduras eram trocadas nas escolas, de populações mais carentes, por garrafas PET, estimulando a reciclagem. Louvo, essa iniciativa, mas, me preocupa a possibilidade de que esse adubo orgânico possa estar contaminado de metais pesados, advindos dos escapamentos de veículos que transitam pelas vias públicas e, indiretamente, possam atingir a população. Uma pesquisa minuciosa elucidaria a questão.