Não é preciso repetir que o Brasil tem um fabuloso déficit arbóreo. Faltam bilhões de árvores para devolver à natureza o que dela se extraiu e que agora vai repercutir no clima, na saúde, na economia e no futuro.
Sem árvores, não há chuva. Sem chuva, não há água. Sem água, não há vida. Simples assim. Só a ignorância, sempre de braços dados com a ganância, não quer enxergar.
Mas no deserto de boa vontade em que parece ter-se transformado este pobre Brasil, ainda existem raríssimos bons exemplos. Como o projeto de plantio de árvores que, no Pontal do Paranapanema, em nosso Estado, congrega população, fazendeiros, empresas e até o MST.
O IPE – Instituto de Pesquisas Ecológicas é o coordenador do Projeto ARR Corredores de Vida. Eles plantam ingás, goiabeiras, cedros rosa, aroeiras, pimenteiras, embaúbas e jacarandás, todas espécies nativas da Mata Atlântica, na Fazenda Santa Rosa, município de Euclides da Cunha. O terreno era usado como pastagem, até que um grupo de fazendeiros o converteu em Reserva Legal. É uma exigência da lei que ainda chamam de Código Florestal, mas que desnaturou a intensa proteção à mata que havia no diploma anterior, aí sim, propriamente denominado Código Florestal.
O IPE restaura áreas de mata atlântica desde 2002, um trabalho que já resultou no maior corredor reflorestado nesse bioma tão sacrificado. Foram plantadas mais de 2,4 milhões de árvores, ao longo de doze quilômetros, que unem duas unidades de conservação: o Parque Estadual Morro do Diabo e a Estação Ecológica Mico-Leão Preto.
É um belo projeto esse “Corredores de Vida”, que conecta fragmentos florestais remanescentes por meio de corredores ecológicos. Isso faz com que haja preservação de espécies, principalmente as ameaçadas de extinção, como o mico-leão preto.
Desde 2021, esse projeto com vinte anos incorporou a geração de créditos de carbono, mediada pela empresa Biofílica Ambipar Environment e passou a atuar em trinta municípios. Acelerou-se o ritmo do plantio a partir de 2023, com o propósito de atingir doze milhões de árvores em seis mil hectares. O valor foi doado pela multinacional biofarmacêutica Astra-Zêneca, interessada em plantar mais de duzentos milhões de árvores até o final de 2030.
Há muito passivo ambiental a ser recuperado, conforme anunciado pela própria ex-Ministra da Agricultura, hoje Senadora Tereza Cristina. O que resta de lucidez aos brasileiros precisa se conscientizar de que a maior ameaça que ronda a humanidade é o aquecimento global. Este é causado pela crescente emissão de gases venenosos causadores do efeito-estufa. E a fórmula mais eficaz, mais efetiva, mais barata e mais lucrativa de combate o aquecimento global é o plantio de árvores.
O empenho desse IPE é um exemplo que precisa repercutir em outras cidades, pois não há só um, dentre os seiscentos e quarenta e cinco municípios paulistas, nem entre os cinco mil, quinhentos e setenta municípios brasileiros, que não tenha um déficit arbóreo a ser corrigido mediante a boa vontade de um grupo de pessoas interessadas em fazer do mundo um lugar melhor.
Replantar é algo acessível a quem quer que seja. Individualmente se pode fazer isso. Mas se houver boa vontade de um grupo, melhor ainda. O ideal seria fazer como o IPE, que consegue motivar empresas, fazendeiros, cidadãos e até os integrantes do MST, o tão comentado Movimento dos Sem Terra. A Terra, o planeta, é de todos. Todos são responsáveis quando ela dá sinais de exaustão que vão desaguar em desastres ambientais dos quais ninguém está livre. A menos que plante árvores. Em abundância. E com urgência.
José Renato Nalini é Reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)