Vivenciar a “Jornada do Herói” no mundo das bolhas digitais tem se tornado um grande desafio para as novas gerações. Estar num ambiente de conforto e familiaridade, onde encontram validação constante de suas opiniões e preferências cria uma sensação de segurança, pois não há necessidade de confrontar ideias ou desafios. Sair da bolha implica entrar em contato com novas ideias e perspectivas, o que pode ser desconfortável e ameaçador. O medo do desconhecido, combinado com a pressão para se conformar ao grupo, leva os jovens a preferirem a estabilidade e permanecer paralisado, omisso e desmotivado para iniciar a aventura de viver no mundo real.
A apatia apaga a luz da criatividade e da vontade. A força e capacidade de decidir e agir fica limitada ao teclado do celular, com massivas publicações digitais. Os algoritmos das redes sociais tendem a reforçar as preferências e crenças existentes, oferecendo "mais do mesmo". A falta de exposição a diferentes perspectivas conduz à crença de que as respostas ou soluções estão todas dentro da bolha, impedindo o desenvolvimento de um pensamento crítico mais amplo e a capacidade de tomar decisões informadas. Pode, inclusive, abrir buracos na mente e na alma dando passagem à insatisfação pessoal e com o mundo, para o caos interno e falta de amor-próprio.
O ser humano é movido a desafios. São inevitáveis e fazem parte da jornada de qualquer pessoa. Viver é encarar obstáculos nas diversas áreas de atuação, dificuldades pessoais ou mudanças inesperadas. Para isso, ter um propósito claro, seja ele qual for, assim como, desenvolver a resiliência, autoconhecimento e a capacidade de aprender com as experiências são habilidades essenciais para superar as adversidades do cotidiano. O desafio do jovem, hoje, é ter força, vontade, desejo de atender ao chamado para a aventura. Sair da sua bolha digital, deixar seu mundo para explorar o desconhecido, ir além das fronteiras, buscando novas perspectivas e experiências fora dos algoritmos confortáveis.
A proposta da “Jornada do Herói”, de Joseph Campbell, traz uma estrutura narrativa que descreve o arquétipo da aventura do herói em mitos e histórias ao redor do mundo. Não é apenas um modelo para contar histórias, mas também um reflexo da jornada humana na busca pelo propósito e autodescoberta. Nela, a figura do mentor é indispensável para oferecer orientação e ferramentas para o nosso jovem enfrentar os desafios, que auxiliem na transformação pessoal ou profissional. No mundo digital, os mentores podem ser referências, assumir a forma de influenciadores que inspiram e encorajam a exploração de novas ideias ou de algoritmos que, eventualmente, sugiram temas fora da bolha, como também, usar ferramentas digitais de forma consciente para desafiar a si mesmo a descobrir conteúdos que ampliem seu ponto de vista. Vivenciem o processo de aprendizado, como uma experiência lúdica, tenham paciência para internalizá-las e clareza que isso só acontece com o tempo.
Cada pessoa é o herói de sua própria jornada. Todos nós, em algum momento, enfrentamos desafios, buscamos orientação (mentores) e passamos por momentos de transformação pessoal. Os jovens, como heróis modernos, têm a oportunidade de usar a tecnologia não apenas como um facilitador de conforto, mas como uma ferramenta para expansão de consciência, autodescoberta e impacto positivo para si e para a sociedade.
Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora
(rosangela.portela@consultoriadiniz.com.br)
