Na última reunião da Pastoral da Mulher/Magdala, refletimos com as integrantes sobre um versículo (6) do capítulo 7 do Evangelho de São Mateus: “Não deis aos cães o que é santo, nem jogueis vossas pérolas diante dos porcos. Pois estes, ao pisoteá-las se voltariam contra vós e vos estraçalhariam”.
Meditamos sobre quem seria a pérola ou as pérolas de cada um. Disseram dos filhos, dos netos... Em seguida pensamos sobre “os porcos e os cães” do entorno de suas pérolas. Responderam que as drogas ilícitas, a violência, o álcool, os amigos que possuem atitudes negativas, algumas letras de funk, o consumismo, em parte o celular... Uma das integrantes nos falou que ao perceber o risco do filho atuar em uma “biqueira”, disse a Deus que preferia vê-lo no caixão do que no tráfico. Tornar-se-ia envolto em maldade. Lembrei-me do Livro do Eclesiástico (22, 11.12): “Chora menos sobre um morto, porque ele achou o repouso; a vida criminosa do mau, porém é pior do que a morte”.
Dentre as letras de funk, citaram uma do MC Rodrigo RD, que relata um assalto, considerado bem sucedido pelos malandros, em que faz a vítima deitar no chão. Avisa que todo cuidado é pouco. Saem a 200 por hora. Polícia para lá e para cá, até reforço aéreo e eles observando, tranquilos, na Skol geladinha. E vem a ostentação: cordão de ouro, carrão, iate, jet-sky, orgia com panicat, whisky importado, casa em Fernando de Noronha...
A letra utiliza uma linguagem direta e crua, refletindo a realidade de muitos jovens que veem no crime uma saída para suas dificuldades financeiras. Descreve o ato criminoso, a camaradagem e a festa que fazem no sucesso do plano. O lazer após o “trabalho”, mesmo que esse trabalho seja um assalto.
MC Rodrigo RD, conhecido por suas letras que retratam a vida nas periferias, as utiliza, como “Assalto a Banco” para explorar temas como a desigualdade social e a falta de oportunidades. Segundo alguns analistas, suas músicas podem ser vistas como uma crítica, mostrando como a marginalização pode levar indivíduos a recorrerem ao crime. As letras também destacam a inteligência e o planejamento envolvidos no ato, desafiando a visão de que criminosos são apenas impulsivos e desorganizados. É um retrato da vida no crime.
Muitos adolescentes, sem um discernimento prudente, se envolvem como se fosse uma lição e acabam por dar os primeiros passos nessa realidade fúnebre. Que falta faz ensinar a pensar.
Outra das mulheres completou que na “biqueira” há desentendimento, agressão e morte prematura. Ouvimos suas histórias de dor. A mãe que apanhou da filha dependente química, a chorou sobre a realidade do filho preso. Mas como poderiam preservá-los de inúmeras situações se moravam em lugares complicados, nas proximidades da ilegalidade? Residem dependuradas nas incertezas do amanhã com medo de barbáries de incluídos e excluídos. Gostariam de poder repetir o que diz o Livro dos Provérbios (23,15): “Meu filho, se o teu espírito for sábio, meu coração se alegrará contigo”.
E Jesus prossegue no mesmo capítulo citado (13.14): “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que aí entram. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida...”
Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)
