OPINIÃO

Árvores pedem socorro


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Um ato de vandalismo mobilizou um enorme público. Foi o fogo que colocaram na figueira da Ponte São João, ao lado da Frederico Ozanam, em frente à antiga fábrica de louça da Pozzani.

A árvore, depois, foi lentamente sendo cortada. Isso motivou matérias em jornal e nas redes sociais. Falava-se em vandalismo. Não se sabia se era o vandalismo dos cortes ou do fogo que não apresentava as marcas.

Esse fogo depois foi esclarecido. Realmente a árvore foi queimada por dentro, destruída tristemente. Não havia mais possibilidade de permanência em pé.

Esse fato, que não foi isolado nem único, não é de protesto nem de outra ordem. Acredito que adictos possam ter desencadeado esses incêndios criminosos.

Falo que não é isolado porque uma Primavera (Bougainville) que ficava ao lado do início da Avenida Jundiaí também foi queimada. A belíssima árvore deixava o lugar com a cara civilizada, de uma cidade que tem um paisagismo, eu diria, espontâneo, mas que qualquer um se orgulharia em ver e que não está assegurado.

Luciana Moraes, que há 24 anos trabalha na Prefeitura, esclarece que a figueira foi muito danificada com o incêndio, com risco de queda sobre a faixa de rolamento e precisou ser suprimida.

A Prefeitura suprime árvores independentemente de publicar na imprensa oficial, o que não é nada bom, visto que a lei 10104 de 28 de fevereiro de 2024, portanto recém-criada, exige que todas as árvores a serem suprimidas devam ser publicadas na imprensa oficial. Isto ainda está longe de acontecer.

As podas estão erradas e as árvores estão sendo mutiladas. Podas da CPFL são as que mais chamam a atenção. Qualquer um vê que copas de árvores são divididas ao meio, em uma drástica intervenção que resulta em deformações que não voltam a uma forma natural e estética do paisagismo.

Plantios são muito bem feitos onde os investimentos são altos, mas onde não interessa são mudas pequenas com covas igualmente pequenas As adubações e substratos garantem o crescimento desses indivíduos de que precisamos tanto, mas são visíveis as árvores que não crescem, mesmo depois de décadas de plantadas, por desinteresse público. Não são assistidas.

A nova lei recentemente aprovada diz em seu 2º artigo que: “O Município, através dos órgãos gestores competentes, realizará o estudo de diagnóstico e o planejamento para a implantação, manutenção e monitoramento da Arborização Urbana, com a participação ativa da população, visando à conservação, à preservação e à ampliação da arborização.”

Isso admite que não temos diagnóstico da arborização em Jundiaí, se tivéssemos essa relação não seria assim. A outra falta, e que é muito desagradável, é que o paisagismo precisa ser feito por técnicos com habilitação para isso, sempre com especialização, o que não está no texto da lei. E não podemos esquecer que é fundamental ter projeto de paisagismo, projeto para a arborização e avaliações daquilo que temos e daquilo que perdemos. Geralmente, aquilo que foi perdido não se repõe mais.

Essa lei terá que ser muito mais elaborada. E, por último, ficam as dúvidas: quem vai fiscalizar? Quem já está fiscalizando? 
 
Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)

Comentários

1 Comentários

  • Regina Dragiça Kalman 21/07/2024
    A seringueiras foram plantadas em diversos pontos da cidade de Jundiaí, nos séculos XVI e seguintes, provavelmente pelos bandeirantes. Um estudo histórico poderia ser feito pelos estudantes da Fatec dos cursos de Meio Ambiente ou semelhantes, antes que seja tarde. O registro mostra que forma plantas diversas árvores ao longo de locais como: o Vianelo , perto da Ponte Torta, no conhecido Escadão; ao lado do rio da Fábrica de Tecelagem Argos; da Fabrica de Japy; ao lado da praça das Bandeiras, que fica hoje o Terminal Central; ao lado do Forum, na rua São Bento; ao lado do rio que passa na Ponte São João, vizinha da fabrica de cerâmica Pozzani, na av. dos Ferroviários, e ao lado do Complexo Fepasa, hoje Complexo Expressa. Parece que há uma política de aniquilar essas árvores que se espalham muito, que foram plantadas há séculos. Ainda restam poucas delas, e se não haver uma proteção pelo Conselho do Meio Ambiente e do Ministério Público, serão aniquiladas como estas.