OPINIÃO

Jundiaí requer mais parques


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Áreas naturais em situação saudável, sem nefasta interferência humana e degradação significativa, estão acabando. De acordo com pesquisa realizada pela Universidade de Queensland, na Austrália, em parceria com a Sociedade para a Conservação da Vida Silvestre, mais de setenta por cento do solo terrestre do planeta e mais de oitenta por cento dos oceanos foram modificados. Evidentemente, para pior.

É urgente que todas as entidades subnacionais, principalmente os municípios, tenham consciência de que precisam preservar aquilo que resta e que é pouco. A urbanização desenfreada exterminou com a cobertura vegetal. O equívoco de não deixar terra para drenagem e filtragem da água das chuvas faz com que estas, quando torrenciais, sejam armas de destruição. É preciso refrear a insanidade.

Jundiaí foi aquinhoada com um patrimônio de valia extrema. A Serra do Japi. Mas esta, aos poucos, está sendo “vendida” para uma excessiva ocupação, que ameaça dizimá-la. Não ouço falar na continuidade da expropriação que foi tão expressiva nos governos Walmor Barbosa Martins e Ary Fossen. E se o lançamento de empreendimentos imobiliários continuar nesse ritmo, a reserva natural tende a perder suas características ecológicas.

A ciência adverte que a mera observação da natureza é essencial para sensibilizar os humanos. É preciso fazer as novas gerações – a minha já está perdida – compreenderem a dinâmica de um ecossistema, aprender que as relações ecológicas dos diferentes agentes que o compõem, seus mecanismos de defesa e o que ela produz em qualidade de vida quando saudável é insuscetível de substituição por qualquer inteligência dos chamados racionais.

Os espaços naturais precisam de proteção, para não desaparecerem. Por isso é urgente que todos os municípios – inclusive Jundiaí – multipliquem seus Parques Ambientais, suas Unidades de Conservação, levem a sério aquilo que já é APA – Area de Proteção Ambiental e Reserva Florestal. Insuficiente o que União e Estado já fazem. Se o município é uma entidade federativa, tem de fazer valer a sua vontade, que deve ser mais ambiciosa do que a dos demais entes, ou sejam, Estado e União.

É confortador ouvir que Jundiaí está bem nalguns rankings. Mas seria ainda melhor que fosse a cidade mais verde do Brasil, a que mais tem espaços ecológicos, aquela que recupera rios e córregos, aquela que cuida da fauna silvestre e que amealha outros troféus em termos da maior ameaça que a humanidade já registrou: a catástrofe das mudanças climáticas.

O verde da Serra do Japi necessita de proteção mais efetiva. Embora tombada, mercê da clarividência de Aziz Ab’Saber, qual é sua natureza jurídica? É um Parque Ecológico? É uma unidade de conservação destinada a uso sustentável? O que tem sido feito para que a tutela não esbarre na especulação imobiliária ou não sofra invasões dos que têm legítimo interesse em moradia, mas que não podem ocupar áreas destinadas à preservação, como é o caso da nossa Serra.

Também há chagas abertas na Serra, com devastação. O que tem sido feito para recuperar a cobertura primitiva, com espécies nativas da Mata Atlântica? Ela tem servido para conservar amostras do ecossistema em que está situada? Como têm sido cuidados os seus recursos hídricos? Qual é o monitoramento ambiental dessa preciosa região que nos foi oferecida gratuitamente, mas que tem de ser preservada com todo empenho pelo Poder Público e pela sociedade?

Qual a porção de domínio público, para que a população possa visita-la e tenha contato harmônico e respeitoso com a natureza? Ela tem servido para enfatizar e intensificar a educação ambiental da cidade e da região?

Muitos jundiaienses ainda não conhecem a Serra e, por não conhece-la, não a entendem e não a defendem. Ela ainda abriga espécies em extinção, como o bugio, o gato do mato, a jaguatirica, o macuco, o gavião pomba, o jacuguaçu e o bacurau tesoura grande. Será que ali ainda existe imbuia, canela preta e canela sassafrás?

São questões que, mais do que merecerem resposta, merecem atenção, reflexão e ação.

José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.

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