Essa frase me remete à proferida pela minha querida mãezinha, que se foi no ano de 2012, afirmando que “os exemplos vêm de cima”. Os nossos ancestrais tinham e mantinham sabedoria ímpar, à qual, no mais das vezes, não damos crédito, o que só ocorre com o passar do tempo.
Dizia mais ela: “Quem não ouve conselho, ouve coitado” e, quando a previsão negativa ocorria,arrematava “Bem feito. Bem que eu avisei.”
Era e é bem isso mesmo! Normalmente - quando jovens - somos relutantes a conselhos e não lhes damos a importância devida até que, com o passar dos tempos, somos forçados a reconhecer que estavam certos.
O que pretendo dizer com tudo isso? A resposta é até simples. Basta cada qual respeitar o seu próximo e avaliar com muito critério suas condutas e resultados especialmente se nos encontramos em postos mais elevados.
Sob o aspecto de cidadania, se cada qual buscasse a redução das desigualdades, o mundo seria melhor em todos os sentidos e não correríamos o risco de ouvirmos “bem feito, eu bem que avisei”.
Um dos melhores caminhos que conheço, para tais reduções, é a empatia.
Assim, ao se colocar no lugar do outro, sentindo na pele o que aquele experimenta, as chances de sucesso assumem proporções inimagináveis. Como disse o pensador Lázaro de Souza Gomes: “A empatia é certamente um dos mais nobres sentimentos humanos. Para entender e ajudar o próximo é necessário se imaginar na condição dele.”
Infelizmente não é o que ocorre. “Eu estou bem, o resto ou os outros que se danem.” Exemplo clássico é o trânsito, onde as pessoas se transformam e não se preocupam em facilitar o outro, como, por exemplo, ao ocupar uma vaga onde cabem dois veículos, a pessoa estaciona bem ao meio para que tenha facilidade ao sair. É muito comum essa postura! De mesmo modo aquele que estaciona em vaga reservada à pessoa com deficiência, idosa ou grávida sob a alegação de que não pretende permanecer por muito tempo!
Muitos desses comportamentos ocorrem em vista da sensação de impunidade, sendo certo que se as autoridades exercitassem o poder que detêm, certamente a educação modificaria e o resgate do respeito sobreviria imediatamente.
O silêncio ou omissão das autoridades nos remetem à frase de que os “exemplos vêm de cima mesmo”, mas infelizmente não é o que se verifica no cotidiano.
Trazendo o tema para a questão racial, é sabido por todas as pessoas o tratamento super diferenciado imposto contra as pessoas negras a ponto de o Ministro do Supremo Tribunal Federal gravar vídeo afirmando que uma pessoa negra portando alguns gramas de droga é considerada traficante e outra de pele branca com quilos “usuária”, confirmando que há muita diferença no trato dessas questões.
De mesmo modo na saúde pública, pois que o Ministério da Saúde confirmou que as mulheres negras recebem menor dosagem de anestesia quando dos partos que a parturiente branca. Qual seria a diferença da dor entre uma e outra?
Na educação o mesmo ocorre, em total desrespeito à ordem federal que trata do assunto como, por exemplo, da implementação da lei que obriga o ensino da história da África, afro-brasileira e indígena em todos os níveis de ensino. Sabem por que isso acontece? Porque simplesmente ignoram, entre outros, o que estabelece o parágrafo segundo ao art. 208, estabelecendo: “Art.. 208 O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:... § 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente”.
A meu sentir, com a implementação efetiva da lei (10.639/03 e 11.645/08), o fenômeno desigualdade, discriminação, preconceito e racismo reduzirá substancialmente, causando muita estranheza a ausência de punição pelo descumprimento da lei federal, deixando transparecer que não há interesse em eliminar as desigualdades praticadas no Brasil e contra grande e importante parcela da população apenas e tão comente em razão da diferença da tonalidade de pele.
Nessa trilha espero que a lei seja cumprida e que o exemplo venha de cima, como apregoavam nossos antepassados: “As escadas devem ser lavadas de cima para baixo”.
Eginaldo Honorio é advogado, doutor Honoris Causa e conselheiro estadual da OAB/SP (eginaldo.honorio@gmail.com)