As mudanças climáticas são o assunto do momento e não poderia deixar de sê-lo. Pois elas constituem a mais grave ameaça que recai sobre a humanidade, não sobre a Terra. O planeta poderá continuar a existir depois da catástrofe final. Mas prescindirá da espécie humana para isso. É o que explica o esforço da ciência mundial para alertar governos e população quanto à seriedade do assunto e do perigo que ele abriga.
Mas isso é um incentivo para a juventude. Ela já nasceu com chips e sabe trabalhar com a realidade algorítmica. Já descobriu que aulas expositivas com a repetição de informações facilmente obtidas no mundo web já não convencem ninguém a estudar. As Faculdades recebem um alunado que não sabe ler, não quer pesquisar, não tem noção do que será importante para sobreviver nas próximas décadas.
Ninguém está alertando a mocidade quanto ao desaparecimento dos empregos. Mais de setecentas profissões desaparecerão. Ainda estes dias, ouvi de empresários que a planta de fabricação de placas voltaicas produz milhares delas por dia e necessita de 4 (quatro) funcionários. Sem dúvida, qualificados. São engenheiros eletrônicos. Mas o que isso significa para quem aprendeu lá no passado que uma indústria teria milhares de operários?
Por isso é essencial que o foco do aprendizado seja a ciência. E a ciência exata, a ciência dura, porque a ciência soft, as ciências humanas, já têm excesso de formandos que depois terão de trabalhar em atividades totalmente desvinculadas daquilo que lhes foi dito em sala de aula.
Uma boa dica: a criação de uma startup do setor da energia. O mundo inteiro precisa enfrentar a transição energética. O Brasil poderia ser um campeão na área, houvesse maior responsabilidade de parte do governo, que patina em discussões ideológicas polarizadas e não cuida do futuro.
A agenda climática fez com que as startups de energia captassem seiscentos milhões de reais só em 2024, anos que está chegando à sua metade. Foram mais de cento e treze milhões de dólares nos primeiros quatro meses do ano, em sete operações. Isso corresponde a mais da metade do registrado ao longo de todo o ano de 2023. Foi o levantamento realizado pela plataforma de tecnologias emergentes chamada “Distrito”. Isso evidencia a retomada do apetite pelas chamadas “Energy Techs”, que se tornaram grande filão no momento em que a agenda da descarbonização ganha importância entre as empresas.
Aí vêm – ou deveriam vir – mudanças regulatórias a cargo de um Parlamento que perde tempo com pautas de costumes e com a consolidação de vantagens pessoais, basta mencionar os famigerados Fundos partidário e eleitoral. Mas a agenda climática se impõe, a despeito do despreparo do governo. É a iniciativa privada que impõe suas regras, pois sabe da crescente importância da agenda climática para todo o planeta. O dinheiro das corporações, ansiosas pelo desenvolvimento de novos engenhos, incentivará a juventude criativa a enfrentar o desafio.
É urgente a criação de soluções que democratizem o acesso a formas limpas de energia. A transição energética não é apenas uma oportunidade ímpar para a indústria. É também para a Universidade e para a escola técnica. Nunca foi tão necessário investir em escolas profissionalizantes como aquelas mantidas pelo Sistema “S” – SESI, SESC, SENAI – e pela Fundação Paula Souza. Em recente manifestação, o Presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base – Abdib, Venilton Tadini, observou que essa agenda é suficiente para recuperar a combalida indústria nacional. É insuficiente exportar energia in natura, como commodity. É preciso usar a inteligência da juventude para fazer produtos verdes e qualificar o Brasil na concorrência internacional.
Mais ciência e mais pesquisa. É disso que o Brasil precisa hoje, mais do que nunca.
José Renato Nalini é Reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.(jose-nalini@uol.com.br)