OPINIÃO

30 anos do Plano Real


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No próximo dia 1º de julho, completam-se 30 anos de uma das maiores conquistas do Brasil moderno: a moeda estável. Neste dia, em 1994, foi lançado o Real, enchendo de esperanças os brasileiros de que os dias de hiperinflação estavam chegando ao fim, o que de fato aconteceu.

As novas gerações não fazem ideia do que era viver numa espiral inflacionária descontrolada, com preços subindo diariamente. Já os mais velhos não se esquecem das imagens dos carrinhos de supermercado abarrotados no início do mês, em uma tentativa vã de ganhar a corrida contra o dragão que transformava o valor do dinheiro em pó. E também lembram do barulho frenético das máquinas de remarcar preços entre as gôndolas.

O Plano Real foi o 13º plano de estabilização econômica desde o início da crise brasileira, em 1979. Neste período, convivemos com várias moedas – cruzeiro, cruzeiro novo, cruzado, cruzado novo – que em pouco tempo perdiam valor, poder de compra e credibilidade.

O plano da equipe de Fernando Henrique Cardoso era de uma engenhosidade única: ao invés de tentar segurar os preços, como todos os que fracassaram, a lógica era indexá-los todos. Afinal, por analogia, se dois carros andam à mesma velocidade, quem está dentro de um deles e olha para o lado, tem a impressão de que não se movem.

Os preços dos bens e serviços seguiam esta lógica, variavam diariamente de acordo com cotação da Unidade Real de Valor, a URV, uma quase-moeda, que foi o embrião do Real. Embora pareça complexo, em poucas semanas, os brasileiros assimilaram o mecanismo de funcionamento da URV. Até que, em 1º de julho, nasceu o Real de fato, com suas cédulas representando animais da fauna brasileira.

A moeda estável é uma conquista notável porque ninguém (pessoas, empresas governos) consegue se planejar com uma inflação anual de quase 5.000% ao ano, patamar atingido às vésperas do lançamento do Real. E os mais prejudicados eram os mais pobres que não tinham como se proteger, no mercado financeiro, da desvalorização diária.

Felizmente, esta cidadania monetária hoje é inegociável. Os brasileiros, que naquele momento chegaram a um ponto máximo de saturação com a escalada diária de preços, não aceitam mais conviver com a inflação alta.

A duras penas, conquistaram a moeda estável. Para tanto, atravessaram congelamentos de preços e as subsequentes crises de desabastecimento com prateleiras vazias. Viram os bois sendo caçados nos pastos quando não se achava carne nos supermercados. Sobreviveram ao confisco de ativos do Plano Collor, talvez a maior violência econômica já cometida contra o país e seu povo.

A inflação terminou o ano de 1994 em 916% e, em 22%, o ano de 1995. Desde então, mesmo com todas as crises internacionais e nacionais que volta e meia desafiam a estabilização econômica, raras vezes o IPCA, em doze meses, superou 9%.

Os brasileiros, hoje, são ciosos do valor do seu dinheiro. Governos que deixaram o aumento de preços correr solto viram sua popularidade descer ladeira abaixo. É inimaginável, para nós, viver, nos dias de hoje, o que os argentinos enfrentam – uma inflação anual de 276,4%.

Se triunfamos no controle inflacionário, ainda convivemos com muitas mazelas e inúmeros problemas estruturais. Temas que serão abordados na próxima coluna.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP


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