
Com a estreia de "Divertida Mente 2", as emoções ganham novamente o centro das atenções, levando a uma reflexão sobre como elas impactam nossas vidas. O filme, que personifica emoções como Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho, ilustra de maneira lúdica e educativa a complexidade do mundo emocional, especialmente durante a infância. Mas como, na vida real, essas emoções podem interferir no nosso cotidiano? E por que é crucial entendê-las e acolhê-las desde cedo?
Desde pequenos, somos bombardeados por uma gama de sentimentos que muitas vezes não sabemos nomear. Crianças, em particular, podem sentir dificuldade em identificar e expressar suas emoções, o que pode levar à frustração e comportamentos problemáticos. Entender o que estamos sentindo é o primeiro passo para uma saúde emocional equilibrada. Isso permite que a criança (e o adulto) lide de maneira mais eficaz com situações desafiadoras e desenvolva resiliência.
O médico acupunturista e especialista em medicina chinesa, Alexandre Martin, explica que reprimir emoções não apenas impede o crescimento pessoal, mas pode ter consequências significativas na saúde mental e física. “Quando falamos de emoções, percebemos que são muitas, dependendo, inclusive, das pessoas que as sentem. Às vezes, a mesma situação vai causar uma emoção em você, enquanto a outra pessoa está reagindo de forma diferente.”
Estudos mostram que a supressão emocional está associada a níveis elevados de estresse, ansiedade, depressão e problemas de relacionamento. A longo prazo, isso pode se manifestar em doenças psicossomáticas, como problemas digestivos, dores crônicas e doenças cardiovasculares. “A emoção pode mexer com o nosso corpo, assim como pode mexer com nosso sistema nervoso endócrino, por exemplo. Isso altera o funcionamento do corpo e a fisiologia, favorecendo, eventualmente, alguma doença. O lado bom disso é que se nós soubermos lidar com todo esse peso, poderá haver um favorecimento para a cura. Quando estiver em uma crise, pense no surfista, que usa imensas ondas exatamente para surfar. Essa prática chamamos de emoções desmedidas”, pontua.
Acolher emoções não significa ceder a cada sentimento que surge, mas sim reconhecer sua presença e entender sua origem. “As emoções fazem parte de quem somos, então é importante não aniquilarmos elas, afinal, emoção é movimento e energia. Você só precisa saber lidar com o que sente. Modular é o segredo.”
Alexandre também comenta que há estratégias para conseguir lidar com o peso dos sentimentos. “Nomear a emoção é importante. Saber identificar o que você está sentindo é fundamental, reconhecer que todas as emoções são válidas, mesmo as negativas, incentivar a expressão emocional por meio de palavras, utilizar técnicas de respiração, meditação e outras formas de lidar com emoções intensas pode ser muito benéfico, e em situações mais complexas, a ajuda de um profissional, como um psicólogo, pode ser necessária. Terapia pode oferecer ferramentas valiosas para o manejo emocional também", finaliza.
Confira entrevista completa no canal "Rádio Difusora Jundiaí, no Youtube
Consequências
Carla (nome fictício), 47 anos, viu sua vida mudar drasticamente há 10 meses, quando ela perdeu seu pai para o câncer. O luto, uma emoção complexa e profunda, se instalou em sua vida e, incapaz de lidar adequadamente com a perda, a mulher viu sua saúde mental deteriorar-se, culminando no desenvolvimento de um transtorno de ansiedade.
"Eu sempre tive uma relação próxima com o pai. Após a perda, me senti desamparada e sem rumo e em vez de expressar minha dor e buscar apoio, escolhi reprimir meus sentimentos, acreditando que deveria ser forte para minha família."
Nos meses que se seguiram à morte do pai, Carla mergulhou no trabalho, usando-o como uma fuga para evitar lidar com sua dor. Ela evitava conversas sobre o pai e se afastou de amigos e familiares que tentavam oferecer apoio. Cada vez que uma lembrança surgia, ela a empurrava para o fundo de sua mente, convencida de que isso a ajudaria a superar o luto mais rapidamente. "Entretanto, essa repressão emocional teve consequências. "Comecei a experimentar sintomas físicos de ansiedade, como palpitações, sudorese excessiva e dificuldades para dormir. Sentia uma constante sensação de pavor, como se algo terrível estivesse prestes a acontecer. Pequenas situações do dia a dia, que antes não me incomodavam, de repente me deixavam paralisada de medo", revela.
Foi somente quando uma colega a incentivou a procurar ajuda profissional que Carla começou a enfrentar seus sentimentos. "Aprendi a reconhecer e validar minha dor, permitindo-me sentir tristeza e expressar a saudade do meu pai."
Já Mariana Bruneli, de 21 anos, começou, há cerca de seis meses, enfrentar uma batalha silenciosa contra um problema de saúde: a gastrite. Essa condição não surgiu do nada, mas foi o resultado de um longo período de repressão emocional e estresse não resolvido. "Desde a adolescência, eu havia aprendido a suprimir meus sentimentos, acreditando que demonstrar tristeza, raiva ou frustração era sinal de fraqueza. Eu sempre me esforçava para ser a 'rocha' para os outros, nunca permitindo que minha própria dor transparecesse", conta.
Nos meses que antecederam o início dos sintomas de gastrite, Mariana passou por várias situações estressantes. Ela enfrentava pressão constante no estágio, problemas em relacionamentos pessoais e preocupações com a saúde de um familiar. Em vez de buscar apoio ou expressar seus sentimentos, Mariana os engoliu, literalmente. Cada frustração, cada medo, cada tristeza foi reprimido, acumulando-se em seu corpo de maneiras que ela não percebia.
"Comecei a sentir dores de estômago persistentes, especialmente após as refeições. Inicialmente, eu ignorei os sintomas, atribuindo-os ao estresse e à má alimentação. No entanto, as dores se intensificaram, acompanhadas de queimação, náuseas e uma sensação constante de desconforto." Após semanas de sofrimento, Mariana finalmente procurou um médico. "O diagnóstico foi rápido: uma inflamação do revestimento do estômago. O médico explicou que, além de fatores alimentares, o estresse e a repressão emocional poderiam estar contribuindo significativamente para o que estava sentindo. Hoje eu adotei algumas mudanças em meu estilo de vida para gerenciar melhor a gastrite. Passei a seguir uma dieta balanceada e, principalmente, a demonstra meus sentimentos", finaliza.