Com pouquíssimos jornalistas convidados, numa coletiva de imprensa realizada sem divulgação, o interessado em adquirir a SAF do Paulista, o executivo Pedro Mesquita da EXA Capital, e o Presidente do Paulista FC Rodrigo Alves, deram uma entrevista decepcionante.
Eu não esperava outra coisa, infelizmente. Tudo muito subjetivo, com respostas protocolares (e isso eu já esperava, afinal, nada está acertado).
Antes de tudo: sou admirador de Pedro Mesquita, desde o tempo da XP Investimentos, e ele está no papel dele: um honesto negociante. Resta saber se será um bom negócio a ambos. E vamos aos tópicos para entender isso.
Mesquita se apresentou dizendo que a XP, onde trabalhou, fez uma estruturação da SAF do Cruzeiro, deixando o time em sétimo lugar no Brasileirão, com tudo arrumado. Não é bem assim, ele fez a transição financeira, estruturou o negócio, mas não teve uma interferência nos negócios dentro de campo. Quem fez isso foi Ronaldo Nazário. A capacidade de estruturação de Mesquita é notável (lembrou que fez o mesmo trabalho para Botafogo a Textor e do Coritiba ao grupo de Justus). Mas entendamos: eles (as pessoas da XP) não compraram essas SAFs, eles fizeram a captação de investidores. É como um corretor de imóveis: deixa o terreno bonito, pinta o prédio e oferece para alguém de maneira mais valorizada / apresentada.
O que se percebeu, nesses negócios, foi: ele, Pedro, não colocou um centavo na aquisição de jogadores, nem administrou o departamento de futebol. Mas arranjou compradores aos clubes! Inclusive, lembrou que se tiver uma oferta interessante, se o Conselho aprovar e a torcida não rejeitar, não vê problemas em mudar nome ou camisa do clube – e isso vale para o Paulista FC.
Seriam tantas as perguntas a se fazer… e somente meia hora de entrevista. Faltou gente e/ou oportunidade para fazer algumas perguntas mais pontuais?
“Um investidor só pode ter uma SAF, e escolhemos o Paulista”, disse ele. Na verdade, ele se refere ao controle acionário de equipes, caso compre a SAF. Se for corretagem, não. Você pode oferecer vários times a vários grupos. Aqui, percebe-se: o Paulista será a menina dos olhos dele nessa nova fase, e ele deixou isso bem claro, pois saiu da XP e criou a EXA. É um desafio pessoal reestruturar o Galo, CASO feche o negócio, pois mostrou que toda a negociação está ainda muito crua (em nenhum momento se falou em valores de investimento).
“Não estamos aqui pelo dinheiro, mas pelo Projeto”, acrescentou. Aqui, respirei fundo… ninguém rasga dinheiro. Mais à frente ele falou sobre “olhar o todo” e que “não é louco de arriscar dinheiro”. Mas entendamos: é uma fala bonitinha (porém, demagoga em certo ponto). Se for para dar prejuízo, não iria abraçar o projeto, logicamente.
“Teremos 4 meses para avaliar a situação e renegociar dívidas e começar a honrar os compromissos”. Ops: então não há valor fechado mesmo? Primeiro, a auditoria. Se tudo estiver bem, fecha-se o negócio. Ou não, se estiver mal. Afinal, quando eu vou comprar um carro, eu pergunto o preço e preciso avaliar o quanto gastarei em mecânica, funilaria ou outros serviços para tê-lo em ordem, e só aí faço a oferta. De tal forma, fica a dúvida: qual o valor que entrará (se é que vai entrar) para o Paulista? E isso ficou claro: ele NÃO MONTARÁ UM TIME para o Paulista, ele captará interessados para adquirir a SAF. Acrescentou que “não esperem ‘investimentos a torto e a direito’, é um projeto da comunidade, da associação e do torcedor” (acho que já ouvi essa fala antes…).
Lembrou ser um projeto de 10 anos, com metas intermediárias de 3 a 5. Porém, ao dizer que é de 10 anos, ressaltou que não sabe quanto tempo poderá durar, citando a revenda do Cruzeiro ao grupo BH. E para essa empreitada, contará com o ex-jogador Paulo André no Projeto.
O Estádio irá para a SAF. Diferente das outras SAF’s, onde o clube continua gestor do estádio dele, o Jayme Cintra estará envolvido com a compra do investidor. Que não seja o que Pascoal Grassioto um dia tentou fazer com a Lousano…
Sobre as categorias amadoras, quer investir na base, mas dependerá das receitas que entrarem ao time. Não teve valor pontual falado (e isso também não é bom… sou defensor da produção de pé-de-obra, a fim de ganhar dinheiro com a venda).
Muito bom ouvir ele falar em criação de “Conselho Consultivo”. Isso é ótimo, mas… Conselho tem que ter voz ativa, e o Conselho Deliberativo do Paulista FC não tem sido. O Conselho de Gerenciamento da SAF será?
Me chamou a atenção que, a cada pergunta, a todo instante, Pedro Mesquita falou em renegociar as dívidas para diminuir os valores. E disse que não sabia do processo do outro investidor que nunca deu certo, o das “Unhas Cariocas”, quando questionado. Ele mesmo, em certo momento, lembrou que o negócio ainda não está certo.
E por que escolheu o Paulista? Disse que “escolheu o Paulista pelo desafio, pois está numa situação muito ruim”. Disse até que fez questão em escolher “quem tinha muito problema”, para mostrar que consegue resolver. E, claro, pela pujança de Jundiaí e histórico do Paulista.
Quando falou-se de valores e capitação de recursos, como se dará… pediram para encerrar a entrevista.
Enfim: não se sabe quanto investirá, como investirá, e quem gerenciará o futebol. Pareceu-me, repito, um captador de investimentos, e não um adquirente com vontade de permanecer os 10 anos no negócio. Normal, no mundo profissional do futebol-business. Só resta saber se atende aos interesses do Paulista FC.
Trocando em miúdos: penso que é um excelente negociador, buscando um investimento barato, vendendo-o ou repassando após a reestruturação
(tipicamente, o que muitas empresas fazem, buscando empresas falidas no mercado e revendendo-as para outros partners)
Rafael Porcari é professor universitário e ex-árbitro profissional (rafaelporcari@gmail.com).