OPINIÃO

O influencer da década de 70, 80, 90…


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Tudo começou lá, em 1976, quando o segundo melhor jogador da Copa do Mundo de 1970, o ex-jogador de futebol Gérson de Oliveira Nunes, o "Canhotinha de Ouro”, fez uma propaganda de cigarros na TV, cuja frase viralizou:

"Gosto de levar vantagem em tudo, certo?"

Provavelmente, os jovens de hoje pouco sabem dessa história, mas as consequências desse “influencer”, considerado um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro da época, ainda respingam no presente da Nação. O termo ganhou fama e o conceito do “jeitinho brasileiro” frequentemente foi utilizado para retratar comportamentos pouco éticos, tentar burlar a lei, ou promover a desonestidade. Na verdade, o comercial falava da vantagem econômica, do preço mais barato do produto, mas a versão e interpretação popular alcunhou um sentido negativo. A agência de publicidade criadora do slogan tentou em vão reverter o quadro explicando que "Levar vantagem não é passar ninguém para trás, é chegar na frente", o estigma venceu e permaneceu.

Parece que a partir da década de 80, as pessoas incorporaram o slogan em seu DNA e é mais frequente do que se imagina, comportamentos tipo: Você sabe com quem está falando? A famosa carteirada... hoje está remodelada, travestida com roupagem do bem e para o bem, seja lá o que cada parte entenda sobre o termo. O poder está nas mãos dos inúmeros “controladores digitais”.

Quem são eles? Famosos ou anônimos, os administradores das plataformas digitais são distribuidores, produtores, criadores e replicadores de conteúdo. São os influenciadores que sugestionam, inspiram, persuadem, induzem, manipulam(?) o comportamento, as opiniões e as decisões das pessoas. O poder digital se manifesta de várias formas e tem a capacidade de moldar narrativas, oportunizar compras, e até mesmo afetar decisões políticas.As mídias sociais agem 24 horas por dia, 7 dias na semana, 365 dias do ano ditando, estabelecendo, articulando a “direção mais indicada a ser seguida”,impulsionada pela combinação de fatores tecnológicos, culturais, econômicos e sociais. Mostram a nova cultura, tendências, o que é bom para você cidadão, o que está na moda, alimentos, medicina, saúde etc., etc., etc.

A força digital tem a capacidade de atingir grandes audiências, na velocidade da luz, de forma segmentada, aproveitando algoritmos sofisticados que entendem e antecipam o comportamento do usuário. Cada uma das plataformas, por meio desses algoritmos, decide o que os usuários veem nas suas timelines ou nos resultados de busca. O Facebook, por exemplo, prioriza conteúdos focados nas emoções e decisões dos usuários. Já o YouTube é conhecido por promover vídeos que mantêm os espectadores mais engajados, o que pode incluir conteúdos que promovam a polarização, moldando percepções e crenças dos espectadores.

Gerson, hoje com 83 anos, ainda atua como comentarista esportivo. Ele diz que se arrependeu de ser o garoto propaganda que trouxe a luz a vertente do jeitinho brasileiro. O“jeitinho”  é, sem sombra de dúvida, parte integrante dos algoritmos que levam grande vantagem sobre os desavisados consumidores, ao combinarem velocidade, tecnologia e conteúdos dos mais variados. O público geralmente se deixa seduzir, sem refletir, pelas facilidades midiáticas, sejam verdadeiras ou fakes.

Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora (rosangela.portela@consultoriadiniz.com.br).


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