Conflito de gerações é um embate que transcende o tempo. Assistimos o choque entre as diferentes faixas etárias, nas abordagens e perspectivas de vislumbrar e atuar na sociedade, assim como, nas experiências e aprendizados incorporados desde a infância até a idade adulta. Isso vale tanto para o ambiente familiar quanto para a vida profissional, dentro ou fora das organizações.
As diferenças parecem se acentuar, principalmente quando estamos diante da Geração Z. São os jovens nascidos entre 1998 e 2009, que cresceram acompanhando a evolução do mundo digital. Livros encadernados, aulas expositivas sem recursos multimídia, pesquisas e consultas bibliográficas eram feitas nas bibliotecas, presencialmente, em ambiente silencioso e calmo. Tudo ficou num passado distante. A transformação da educação, com o decorrer dos anos, acentuou a discrepância geracional.
A sociedade também mudou num ritmo acelerado, favorecendo a metamorfose da coletividade, do conceito de família, do crescimento econômico e de uma cultura protetora exagerada dos jovens que hoje se assemelham a um copo de cristal. Uma geração sem ou com pouca experiência de frustração, frágil e birrenta se comparados com as anteriores.
“A ideia de proteger os jovens cresceu tanto que ultrapassou o limite saudável onde as experiências reais e duras da vida se transformam em fatores de amadurecimento”, relata Sidnei Oliveira, Mentor de Carreira e Fundador do Instituto de Mentoria. “Ao evitar as cicatrizes, removemos também os aprendizados gerados pelas dificuldades e frustrações. Construímos uma geração de jovens que não desenvolveram plena consciência das implicações de suas escolhas. Eles se tornaram mais dependentes de ajuda externa para lidar com frustrações, e isso se reflete em suas escolhas profissionais”, acrescenta o Mentor.
Pesquisa da Resume Genius, plataforma de criação de currículos, divulgada pela Forbes, no mês passado, constatou que 45% dos mais de 600 gerentes de contratação entrevistados apontam a Geração Z como a mais desafiadora para se trabalhar, seguido da Geração Y ou Millennials, que são os nascidos entre 1981 e 1997, com 26%, da Geração X, nascidos entre 1964 e 1980, com 13%, e os Boomers, nascidos entre 1945 e 1963, com 9%.
A Geração Z tem um pensamento crítico em relação ao mercado de trabalho e o questiona, prioriza a diversidade e se adapta com facilidade ás novas tecnologias. Também quer flexibilidade e propósito. Para Geoffrey Scott, gerente sênior de contratação da Resume Genius, “A Geração Z pode ter uma má reputação, contudo, tem o poder de transformar os ambientes de trabalho para melhor”, afirma. “Eles já causaram impacto, porém não vieram para quebrar tudo. Eles trazem uma combinação única de talento e ideias ousadas que podem renovar a força de trabalho.”
Talvez o ponto de equilíbrio esteja na habilidade e esforço dos gestores organizacionais, em driblar as diferenças, adequar a comunicação, e propiciar um ambiente em que a troca de experiências seja favorecida. É inegável o quanto os sêniores, ou os 50+ podem colaborar com sua bagagem à nova geração, em contrapartida, os nativos digitais podem oferecer a facilidade na aplicação de novas tecnologias. O mundo caminha cada vez mais para a digitalização, mas é evidente o envelhecimento da população.
Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora (rosangela.portela@consultoriadiniz.com.br)