OPINIÃO

Oportunidades e desafios para a indústria


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No último dia 25/5 foi celebrado o Dia da Indústria. Essas efemérides são um convite à reflexão, uma oportunidade de olhar para o setor e avaliar cenários, desafios e perspectivas.

Neste ano, é importante destacar que a neoindustrialização brasileira está em pauta. Depois de mais de uma década de desindustrialização, sem nenhuma medida mais estruturante, no início de 2024, foi lançado o programa Nova Indústria Brasil (NIB).

O programa estabelece as diretrizes do setor para a próxima década e está apoiado em quatro eixos: mais produtividade, mais inovação, mais verde e mais exportação. Vale ressaltar que uma indústria que se pretende moderna e competitiva deve estar inserida em algum desses pilares.

No contexto atual, em que até os países desenvolvidos têm apoiado fortemente o setor industrial, trata-se de um movimento importante. As metas aspiracionais da NIB foram anunciadas em janeiro e, em breve, serão divulgadas as metas detalhadas, além de um diagnóstico e desafios das cadeias produtivas prioritárias.

O Brasil está diante de uma janela de oportunidade que não pode ser perdida, pois tem plenas condições de ser protagonista nos próximos anos. Isto porque é um ator central das maiores discussões do mundo hoje: segurança alimentar, segurança energética e as mudanças climáticas.

O país é um dos maiores produtores de proteína do planeta, possui a matriz energética mais limpa e diversificada do mundo e, em função de seus recursos naturais, está bem posicionado para fazer a transição ecológica.

A Reforma Tributária é outro vetor positivo para impulsionar o setor industrial nos próximos anos. Além do sistema complexo e pouco funcional atual, a indústria é quem mais paga impostos - responde por cerca de um terço da arrecadação embora represente cerca de 12% do PIB.

Com a adoção de um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) e o alinhamento às melhores práticas internacionais, o Brasil passará a ter um sistema mais simples e racional. Outro ganho para o país é a transparência, todos saberão quem paga e quanto.

A reforma é positiva, não há dúvidas, mas há que se manter a atenção às possíveis novas exceções que venham a ser incluídas na regulamentação do texto. Elas devem ser barradas pois, se isso ocorrer, a alíquota de referência irá subir. Não podemos permitir que a indústria continue pagando a meia entrada dos outros.

Entre os desafios, o Custo Brasil, os juros altos e a insegurança jurídica seguem sendo entraves ao crescimento, não só para o setor industrial, mas para o país como um todo. É preciso melhorar o ambiente de negócios, favorecendo o empreendedorismo e a livre iniciativa.

Vale destacar que a indústria de transformação é especialmente sensível ao peso dos juros. Segundo estudo da Fiesp, o impacto no segmento é 60% maior que nos demais setores. Isso porque a indústria não tem acesso a mecanismos de financiamento disponíveis para os outros, como LCA, LCI, CRA, CRI ou debêntures incentivadas.

Esta realidade dificulta o acesso ao capital o que, por sua vez, atrasa a reposição de maquinário. Hoje, o parque industrial brasileiro é obsoleto, tem em média 15 anos, limitando a produtividade e, consequentemente, a competitividade do setor.

Em 2023, a Produção Industrial fechou o ano praticamente estável, com ligeiro avanço de 0,2%. Para este ano, a Fiesp projeta um crescimento mais robusto, de 2,2%, apoiada na expansão da massa salarial, na melhora nas condições do crédito e em programas anunciados pelo governo, como a depreciação superacelerada, Mover e Plano Mais Produção. A ver se o setor consegue recuperar o protagonismo do passado.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)

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