Embora saibamos todos que estamos destinados à morte, a sua chegada nos apavora. A partida de quem viveu muitas décadas é encarada com sofrimento, mas há sempre o consolo de se pensar: "viveu bastante". E esse "bastante" vai variando conforme a época. Mercê da ciência, que produz medicamentos e oferece estratégias tendentes à longevidade, hoje a velhice é um estado de espírito, mais do que uma cronologia.
Tudo isso para dizer que morrer aos sessenta e quatro anos é muito cedo para quem esbanjava saúde e alegria de viver. Paulinho Ladeira era o caçula de Lilia Calicchio e Paulo Newton Ladeira. Desde adolescente, frequentei a família. Amigo de Badete e de Cacaia, o Neto já era bem mais novo e Paulinho nasceu quando eu tinha catorze anos. Era um menino bonito, simpático, sempre sorridente. E assim prosseguiu pela vida.
Eu adorava sua mãe. Chamei-a sempre de "madrinha", pois ela testemunharia meu casamento com Eliana Castiglioni, a paixão da época. E "madrinha" foi enquanto viveu, embora eu viesse a me casar com Maria Luiza, muito mais tarde.
O convívio com os Ladeira era um aprendizado da arte do amor familiar. Um grupo coeso e solidário. Muito festeiros, era frequente a recepção carinhosa em casa de Maria Enid e Curt Bernhard Hermann Pachur, pais de Fernando - com quem estudei no científico do Divino Salvador - e Anna Theresa. Maria Enid era irmã de Paulo Newton, o pai do Paulinho, assim como Mercedes Ladeira Marchi, esposa de Oswaldo Marchi. Felizmente, a benfeitora responsável pela criação da "Feira da Amizade" ainda está entre nós. Sempre a pensar no próximo, no exercício de uma caridade autêntica, uma característica do clã Ladeira. Saudades dos eventos que aconteciam em setembro e que congregavam as famílias jundiaienses empenhadas em sustentar as inúmeras instituições beneméritas da Terra da Uva.
Quando integrei a primeira gestão Walmor Barbosa Martins, tive a iniciativa de sugerir ao Prefeito denominasse "Professora Leonita Faber Ladeira" uma escola municipal. Homenagem à mestra, mas também a toda a sua descendência.
Vi, portanto, Paulinho crescer. Em seu entusiasmo, sua simpatia, sua vontade de se relacionar. Casou-se com Renata Passarin e teve duas lindas filhas: Rafaella, hoje casada com Vinicius Taddeo de Marchi e Marcella.
Antes disso, fui distinguido com o apadrinhamento de Badete, Maria Bernardete Ladeira, com o meu querido amigo Renato Storani, a quem também levei para o movimento "Cursilhos da Cristandade".
Uma vinculação muito próxima, portanto, que me faz considerar os Ladeira, todos eles, aquela parte da família escolhida. Amigos que são como irmãos.
Era comum encontrar Paulinho Ladeira em reuniões paulistanas. Era muito bem relacionado. Sempre carinhoso, ganhar o seu sorriso e o seu abraço me transportava às épocas que já não voltam mais, da nossa juventude dourada em Jundiaí.
Na semana em que ele partiu eu estava em Roma, a participar de um encontro convocado pelo Papa Francisco, para refletir sobre Mudança Climática. Assim que recebi a notícia, dentro da Santa Sé, entrei na Capela do Santíssimo, onde se celebraria a missa do terceiro aniversário de falecimento do prefeito Bruno Covas e pedi ao nosso Pai e à sua Mãe Santíssima, recebessem com ternura o nosso Paulinho Ladeira.
Ali está uma legião de seres que o amaram e continuam a amar. Seus pais, seus avós, seus tios, primos, sobrinhos e tanta gente que vai fazer com que esta nova fase compense a ausência de Renata, Rafaella e Marcela.
Descanse em paz, querido Paulinho Ladeira.
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)