Em vários outros artigos eu expressei a minha admiração pelo gênero feminino e a relação que elas têm com Gaia, mãe Terra e fonte da potência yin do planeta. Chega a ser uma inveja branca, aquela que a gente sente sem doses significativas de cobiça ou de maldade.
A natureza avisa a menina, por volta dos seus doze anos, que ela é uma mulher de uma forma magistral, com a primeira menstruação. Ela então terá a lembrança constante deste seu potencial materno, segundo os ciclos que acompanham o calendário lunar.
Já explorei bem esse assunto e inclusive mostrei como esse processo não deve ser incômodo para a mulher (se assim ele aparenta ser para minhas mais-que-estimadas leitoras, procurem auxílio médico, por favor!) e constitui demonstração da força divina manifesta no corpo feminino.
Hoje, no entanto, gostaria de inverter o lado da moeda e falar de uma outra transição, que ocorre quando esses ciclos se vão. Nós modernamente conhecemos esse período como menopausa e os seus sintomas deletérios, quando ocorrem, chamamos de climatério.
Energeticamente, a natureza bloqueia a saída de energia vital, representada no processo de menstruação, para que a mulher se preserve, já que está em processo de envelhecimento e não seria seguro destinar um tanto de energia para a gestação. Segundo esse modelo, a diminuição quase que completa do fluxo dos canais que desencadeiam o ciclo menstrual faz com que a energia que ali se encontrava seja redirecionada para outros pontos se torne por vezes um "excedente" disponível no sistema de meridianos.
Por vezes, essa energia gera uma tensão no sistema e segue na forma de uma onda ascendente que a mulher percebe como um fluxo súbito de calor, o que conhecemos como fogacho. A sensação pode ser bem desagradável, mais ou menos como uma variação de tensão em uma instalação elétrica descalibrando eletrodomésticos conectados nela, se fossemos comparar o corpo com uma casa.
A corrente de energia corre desgovernada por canais que não estavam acostumados a recebê-la e por isso uma sensação de "descontrole" e mesmo de angústia se faz presente quando isso ocorre.
O tratamento consiste em consolidar a potência de natureza yin, que faz com que ocorra o controle deste potencial yang que se desprende no sistema da mulher. Desta maneira a circulação desta energia é incorporada no sistema de forma paulatina, sem gerar nenhum tipo de sintoma para a mulher.
Vale enfatizar, no entanto, que essa energia excedente pode ser utilizada para novos trabalhos e desenvolvimento energético para a própria mulher, mostrando um lado pouco conhecido da menopausa. A energia funciona como um aditivo que pode abrir as portas da percepção para o mundo do oculto e do sutil, com o qual o gênero feminino sempre foi mais conectado.
Talvez até por isso que a idade avançada em mulheres é associada com a imagem da sacerdotisa, uma mulher sábia, muitas vezes detentora de poderes de cura e conselheira, capaz de usar seus poderes femininos não para cuidar mais de uma só criança, mas expandi-los para cuidar de comunidades inteira.
Alexandre Martin é médico especialista em acupuntura e com formação em medicina chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)