OPINIÃO

As muitas faces de uma mesma moeda


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Há uma semana venho observando as publicações em diversas mídias sobre a catástrofe no Rio Grande do Sul. Comoção, emoção, empatia, irmandade. Talvez estas palavras possam descrever o sentimento que primeiramente tomou conta dos paulistas, se estendeu para todo o país, impulsionando pessoas, comunidades, empresas e cidadãos comuns, às múltiplas ações em socorro ao Rio Grande Sul, que ainda está submerso nas águas do dilúvio que assolou o estado.

O espírito de solidariedade está em toda parte e mensagens encorajadoras chegam dos países vizinhos e até do Vaticano. Há também os oportunistas de plantão, tentando aplicar golpes com falsos anúncios de arrecadação. Influencers, que só tomaram ciência da situação passada a ressaca do show que parou Copacabana, no estado do Rio de Janeiro, no fim de semana. Ah! Sem falar dos políticos que continuam sendo "os políticos", com particulares peculiares que fazem parte do contexto dos países da linha abaixo do Equador.

A inerente dualidade refletida nas ações do comportamento humano faz parte da complexa característica multifacetada da nossa natureza: bem ou mal; claro ou escuro; mentira ou verdade; certo ou errado; alto ou baixo; grande ou pequeno; mente e corpo; corpo e alma foram exaustivamente estudados pelos filósofos platônicos chegando aos tempos atuais com Yuval Noah Harari argumentando sobre a capacidade da humanidade em criar e destruir ou de cooperar e competir.

Alguns comportamentos noticiados nas mídias sociais me remeteram ao livro Antes do Baile Verde, de Clarice Lispector. A famosa autora da "introspecção" traz luz à similaridade de alguns acontecimentos que se destacaram na semana. Nessa obra, a escritora aborda a dúvida da protagonista entre sair para se divertir e brincar durante os quatro dias do carnaval, ou deixar seu pai em casa, à beira da morte, sentado na cadeira de balanço. A dualidade entre desejo e realidade foi explorado por Lya Luft. Já os contos de Guimarães Rosa refletem a influência do meio ambiente, árido e hostil, em seus personagens, descrevendo dilemas morais, existenciais e emocionais.

As narrativas envolventes dos livros nos mostram um pouco do cenário que a realidade brasileira apresenta aos seus nativos. Os filósofos e escritores oferecem perspectivas, promovem e escrevem reflexões sobre os conflitos internos que podem nos levar a comportamentos duvidosos e contraditórios. A realidade presente nos mostra as inúmeras possiblidades das pessoas de agirem de forma que pareçam antagônicas ou inconsistentes, mas dependem do contexto, das circunstâncias ou das próprias motivações.

A união temporária do Brasil com o objetivo de ajudar o Rio Grande do Sul indica que há grandes chances de entendimento entre os vários grupos, comunidades e partidos que compõem a sociedade brasileira. Quando se coloca o bem comum em detrimento de interesses pessoais, das pequenas vaidades e picuinhas, sejam aquelas que representem uma parte dos indivíduos ou grandes corporações, há chance de superação. É importante reconhecer e compreender a ambiguidade humana para se promover uma maior empatia, compreensão e tolerância em nossas interações sociais.

Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora (rosangela.portela@consultoriadiniz.com.br)

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