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RAÍZES
Casa que mora no coração ou coração que mora na casa
Histórias de pessoas que nascem e crescem na mesma casa, sem nunca se mudarem, são cada dia mais raras e mostram afetividade
Por Nathália Sousa | 05/05/2024 | Tempo de leitura: 3 min
Jornal de Jundiaí
Jornal de Jundiaí
A afeição a um local geralmente se faz pelas lembranças que esse espaço guarda. A memória afetiva é composta por diversos elementos. Há quem tenha boas lembranças de uma casa em que morou na infância, mas tenha precisado se mudar, mas há quem guarde as memórias vivendo ainda na mesma casa, sabendo todo detalhe, toda a história do lugar. Embora as mudanças sejam cada vez mais comuns, quem nasceu e viveu na mesma residência tem uma ligação especial com o espaço.
Esse é o caso da Edina Aparecida Esperandio, de 42 anos, que mora em uma chácara no Champirra desde que nasceu, e pretende continuar até o fim da vida. "Meus pais vieram do Paraná em busca de trabalho e moravam aqui como caseiros. Passou todo esse tempo, meu pai faleceu e aí o dono doou a chácara para a minha mãe. Como agora é dela, pretendo continuar aqui até o fim da minha vida. Minha filha nasceu aqui também", conta.
Ainda que viva em área rural, Edina percebe a mudança do entorno ao longo dos anos na mesma casa. "Aqui não era iluminado, agora é. Como é chácara, antes pagava Incra, agora é IPTU. Quando meus pais vieram, só tinha duas casas no loteamento, agora, deve ter uns 25 vizinhos."
Para ela, apesar de não ser perfeito, o lugar é especial, inclusive pela memória que guarda do pai, Adão Esperandio, falecido há apenas três anos, quando a propriedade foi doada à família. "Não trocaria. Claro que tem prós e contras. Tem tranquilidade, vizinhos de 20, 30 anos. O lado ruim é não ter água encanada, só poço ou caminhão pipa, e é longe de rodovia para quem não tem condução, eu tenho, graças a Deus, então Deus me livre sair daqui."
O apreço é tanto, que Edina juntou dinheiro a vida toda para comprar a chácara, caso do dono quisesse colocar o local à venda. "Minha filha já tem 27 anos e também não pensa em sair daqui. Acho que temos um apego emocional, por tanta coisa que passamos aqui", diz.
MEU LUGAR
Cláudio José Ioppi, 68 anos, mora desde que nasceu na mesma residência, no Centro de Jundiaí. "O prédio foi construído pelo meu avô, para a minha mãe morar, é de 1951. O lugar aqui era uma delícia. Já hoje, tem muito barulho, problemas com moradores de rua. Apesar de tudo, nunca pensei em me mudar, até porque sou contra mudanças", comenta.
Sobre o entorno, Cláudio, que nasceu justamente no Dia da Saudade, 30 de janeiro, é um saudosista e sente falta da antiga Jundiaí, quando a cidade tinha menos de 100 mil habitantes e a avenida Jundiaí nem tinha calçamento. "Aqui, antigamente, tinha negócios de 30, 40 anos. Hoje, abre um novo negócio e fecha em pouco tempo. Esse vínculo faz falta, hoje é tudo virtual. Sou da época em que as pessoas colocavam cadeira nas calçadas. Todo mundo ia para o Centro antes, hoje é diferente."
Apesar dos pesares, sobretudo a poluição sonora, Cláudio não considera sair do lugar onde sempre viveu. "Dos meus familiares, eu sou o que mais tempo mora aqui. Para mim, mudança assusta um pouco. Eu nasci em 1956, mas teria nascido 30 anos antes."
"Sinto falta do pessoal mais velho que já morreu, do comércio de antes, conhecia todo mundo, toda a vizinhança, o pessoal conversava. Tenho saudade também do parque que tinha aqui onde hoje tem o Terminal Central, antes de ser rodoviária também. Tinha biblioteca, piscina, campo de futebol. Mas hoje o que me incomoda é o barulho, tem morador de rua que grita, toca violão de madrugada. Isso afeta a nossa saúde mental. Apesar de tudo, minha raiz é aqui", confessa.
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