OPINIÃO

João Carlos e Rui


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Viver bastante é colecionar perdas. Inevitável a partida de pessoas queridas, que fazem parte de nossa existência, o que provoca dor profunda nos que ficam.

Fiquei profundamente entristecido com a morte precoce de João Carlos José Martinelli. Conheci-o desde sempre. Fui amigo de seu pai, o Comendador Hermenegildo Martinelli. Homem probo e prestante, exerceu a vereança naqueles bons tempos em que profissionais cidadãos emprestavam o seu trabalho de forma gratuita, como vereadores em suas cidades.

Hermenegildo Martinelli era um católico praticante e, durante muito tempo, manteve um programa diário na Rádio, chamado "Sorrisos de Nossa Senhora". Tive a oportunidade de comparecer, mais de uma vez, aos estúdios em que ele realizava a sua missão de disseminar o amor à Mãe de Deus.

Desde criança, João Carlos mostrou-se talentoso e exímio na escrita. Menino ainda, integrou uma equipe jovem para produzir um jornal pelo qual a mocidade se interessasse. Trabalhamos juntos nessa época.

Sempre foi estudioso, inquieto, a procurar soluções para velhos problemas e, além da advocacia prestimosa, nunca deixou de contribuir com a Imprensa, expressão maior do ideal de Democracia pelo qual os verdadeiros cultores do direito anseiam.

Era uma alegria partilhar com ele este espaço semanal. Ainda no domingo, 28 de abril, escrevia "O valor do trabalho e os saudosos piqueniques". Propiciou-nos recordar o que acontecia na Jundiaí de que fruíamos há algumas décadas. O valor do trabalho, eis que nossa cidade era tipicamente operária e os ingênuos encontros familiares e de amigos próximos, na verdadeira instituição que era o piquenique.

Fomos amigos e colegas em várias fronteiras: o jornalismo, desde sempre; a docência universitária, durante muitos anos. A fé cristã, herança de nossos pais. Acima de tudo, uma amizade fraterna, pura e solidária.

À Ivone, sua companheira de quarenta e cinco anos e aos cinco filhos, nosso sentido abraço. E não deixem de sempre recordar às duas netinhas, o valor e a dimensão humana e patriótica do seu extraordinário avô.

Também não tive a oportunidade de registrar outro golpe: o falecimento de Rui Saraiva Fernandes.

Rui integrou a "mocidade dourada" de Jundiaí. Atleta, risonho, simpático, agregador. Estudou na Universidade Federal do Rio, de onde voltou profissional muito empenhado em melhorar o mundo.

Era disputado em todas as rodas, pois cativante no convívio. Quando se casou com Mariângela, formou com ela o que à época, era considerado "o mais belo casal" da Terra da Uva.

Nossos filhos estão na mesma faixa etária e, para alegria minha, convivem. Rui esteve bem próximo quando eu judicava na 1ª Vara de Registros Públicos da Capital e o indicava como perito para algumas causas. Também convivemos quando ambos integramos a primeira gestão Walmor Barbosa Martins, de 1969 a 1972. Ele era o responsável pelos parques e jardins e foi excelente servidor e melhor companheiro.

A família Saraiva era um dos pilares da heráldica sociedade jundiaiense. Sua tia, Diva Teixeira Coelho Saraiva foi notável educadora. Rui deixa linda descendência, que também honrará sua vida e sua memória.

A relação dos amados que já se foram aumenta a cada dia. Hoje, quando dizem que a Inteligência Artificial fará com que os contemporâneos cheguem a viver quinhentos anos, eu indago se isso é bom. Seria, desde que fôssemos todos juntos enfrentar tais centenários. Sem a companhia dos amigos, essa jornada pode ser solitária e melancólica.

Resta fortalecer a fé e aguardar que, numa outra esfera, ainda possamos nos reunir e festejar a dádiva da amizade.

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