OPINIÃO

Veneza, a Bienal do mundo sul global

27/04/2024 | Tempo de leitura: 2 min

Na 60ª edição da Bienal de Veneza, inaugurada nesta semana, pela primeira vez um curador brasileiro, Adriano Pedrosa, esteve à frente do evento. Como diretor do MASP, ele já vinha transformando o museu em um lugar de diálogo com artistas indígenas, LGBTQIA+, afro-brasileiros e estrangeiros durante o último ano, valorizando a arte que esteve fora do circuito. Ao fazer isso, uma imensa cultura aflora e explode em exposição ao lado de outras obras de outros países com o mesmo caráter.

É o sul global que está evidente e explorado nesta Bienal, com mais de 300 artistas da África, América do Sul e outros lugares estrangeiros sendo expostos e valorizados na maior exposição de arte do mundo.

Pedrosa tem obtido sucesso imediato ao trazer para o mundo das artes essas contradições, injustiças e o que tem como grande motivação para essa Bienal: "Foreigners Everywhere", estrangeiros em todo lugar. A imprensa tem julgado o curador de 58 anos, que já recebeu reconhecimentos esfuziantes, inclusive no NY Times.  As pinturas indígenas expostas são evidentes e, passadas a limpo, ganham cores que não conhecíamos aqui em suas origens, tornando-se uma força de beleza e arrebatamento.

Ao mesmo tempo, artistas queer estão em todos os lugares. A alemã Ersan Mondtag é um exemplo desse contexto, mesmo que possam falar em autoritária ou fascista, seu trabalho é sinistro e fala sobre a morte do pai que trabalhou em uma fábrica de amianto tóxico. A Bienal é polêmica e ousada, com um lado contemporâneo, contraditório e enfrenta o contexto político atual.

O curador não teve problema político com a recém-eleita primeira-ministra da Itália Giorgia Meloni de ultradireita , disse ter conversado com um representante da cultura do governo e que não recebeu nenhum obstáculo. Nem os protestos impediram a visitação os dois locais bem como os 90 pavilhões independentes organizados por nações individuais.

Nas semanas anteriores, um grupo de ativistas denominado Aliança Arte Não Genocídio tinha solicitado que excluíssem Israel da participação. A Bienal recusou outras manifestações, que também não conseguiram atrapalhar o evento, com grande carnaval encharcado de prosecco na semana de abertura.

Vale ressaltar que a brasileira italiana Ana Maria Maiolino recebeu o maior prêmio para um artista pelo conjunto de sua obra. Na Bienal, a obra apresentada teve um impacto enorme, uma imensa instalação com as formas de cerâmica crua arranjadas de maneira belíssima, que justificaram a premiação.  Nell'arte, la verità.

"A Bienal de Veneza e a arte de voltar atrás" - Jason Farago

Essas informações foram extraídas da reportagem de Jason Farago para o New York Times.

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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