OPINIÃO

O apagão de professores


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A educação básica brasileira está diante de grande desafio: como reverter a evasão dos cursos de licenciatura? O mais recente Censo da Educação, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao Ministério da Educação, revelou que 58% dos alunos que estão na licenciatura, cujo objetivo é à formação de docentes em várias áreas do conhecimento, desistem dos cursos antes de obter o diploma. É a maior taxa de abandono da última década.

Alguns cursos, especificamente, vivem situações dramáticas. Dos que ingressam em Matemática e pretendem ser professores, 67% desistem. No caso de Física, o percentual de abandono alcança 72%. Em Química e Filosofia, 65% não concluem a licenciatura e em Língua Estrangeira o índice de desistência é de 64%.

O desprestígio da carreira de docente também pode ser mensurado pelo número de vagas ociosas nos cursos de licenciatura, mesmo nas universidades públicas, que historicamente têm vestibulares muito concorridos. Nas instituições públicas, 26,4% das vagas estão ociosas e, nas faculdades privadas, 32,45%.

A situação é tão grave que o Brasil poderá enfrentar um apagão de professores já em 2040, com um déficit de 235 mil profissionais, de acordo com projeção do Instituto Semesp, instituição voltada para análise de dados e estatísticas do ensino superior.

O cenário é mais difícil, sobretudo, no Ensino Fundamental II e no Ensino Médio, onde os professores são especialistas e precisam de formação específica. Diante da escassez de profissionais, porém, as escolas têm improvisado e recorrido a pessoas formadas em outras áreas para suprir as lacunas.

Entre os professores de Sociologia do Ensino Médio, por exemplo, apenas 39,3% têm formação na área, segundo o Censo Educacional. Estado mais rico da federação, São Paulo apresenta situação pior do que a média nacional em várias disciplinas, como Língua Estrangeira (94,8% sem formação adequada) e Física (63,3% sem formação adequada), entre outras.

Essa escassez de profissionais é atribuída a diversos fatores. Há um desinteresse dos mais jovens pela carreira de professor. A participação de estudantes de até 29 anos entre os ingressantes nos cursos de licenciatura caiu de 62,8%, em 2010, para 53%, em 2020.

Paralelamente, os profissionais atualmente no mercado de trabalho estão envelhecendo. O número de docentes com mais de 50 anos aumentou 109% entre 2009 e 2021. São pessoas que não demorarão a se aposentar, uma vez que docentes têm aposentadoria especial.

Os baixos salários e as condições precárias de trabalho, particularmente na rede pública, onde os professores têm menos recursos didáticos, oportunidades de formação continuada e estão expostos a situações de violência também contribuem para o abandono precoce da docência.

Além disso, o avanço do ensino à distância piorou o quadro, pois no EAD, as taxas de evasão são mais altas – de cada três alunos, um não conclui a graduação. E, nos cursos de formação de professores, seis de cada dez estudantes estão no EAD. Este tópico é tão relevante que aprofundaremos o tema no próximo artigo.

De qualquer forma, reverter este quadro é urgente, embora não seja tarefa simples. O primeiro passo é ter políticas de valorização da carreira, tanto em termos salariais quanto de condições de trabalho e desenvolvimento profissional, além de infraestrutura adequada nas escolas. Sem o básico, é impossível avançar. Precisamos ter em mente: ser professor não deve ser um sacerdócio, mas uma escolha consciente de carreira.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)

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