Moacir Silva, médico infectologista e especialista em doenças parasitárias explica que a dengue é uma inflamação sistêmica. “A dengue é um quadro de inflamação sistêmica em todo o organismo e por conta disso o contaminado pode ter uma inflamação também dos nervos ópticos. Então, por isso que você tem essa dor atrás dos olhos, normalmente ela dura o tempo que você tem a doença, geralmente é de três a cinco dias, que é o quadro comum da dengue”, afirma.

O oftalmologista André Tenório Teixeira destaca que a inflamação causada pela dengue e as alterações no sistema imunológico podem resultar em consequências na visão. “A dor nos olhos provocada pela dengue deve-se a um processo inflamatório causado pelo vírus da dengue nos músculos responsáveis pela movimentação ocular. Essa dor atrás dos olhos, juntamente com a febre alta estão entre os primeiros sintomas da doença. Ela é mais intensa nos primeiros 2 a 3 dias do início dos sintomas", ressalta.

Para amenizar, o oftalmologista orienta. "Aconselhamos fazer compressas com água fria nos olhos por cerca de 20 minutos e evitar esforços visuais, para alívio dos sintomas. Já no caso da dengue hemorrágica, (quadro clínico menos frequente), ocorre redução no número de plaquetas e pode ocasionar hemorragia dentro do olho, chamada hemorragia intraocular. Ocorrendo essa hemorragia no vítreo, espécie de gel transparente que preenche o olho, pode ser necessário realizar cirurgia (vitrectomia) para retirar o coágulo. Também pode ocorrer hemorragia na conjuntiva (fina membrana que reveste a parte branca do olho), neste caso não é grave e é reabsorvida com o tempo sem deixar sequelas. Outra alteração importante seria hemorragia no nervo optico, causando neurite óptica (inflamação desse nervo), esta se não for adequadamente tratada pode, nos casos mais graves, causar perda da visão do olho acometido.”

Adriana Fruchi, de 45 anos, já contraiu dengue duas vezes, em janeiro e no dia 3 deste mês (abril), relatou que a dor nos olhos foi insuportável durante os primeiros dias de contágio. “A dor nos olhos durou uma semana, mas até o quarto dia foi insuportável, eram pontadas que não cessavam, acordava a noite e não conseguia voltar a dormir. Não melhorava quando eu fechava os meus olhos ou deitava ou fazia qualquer coisa prescrita pelo médico.”

Adriana teve uma infecção no olho esquerdo pela queda de imunidade causada pela doença e mesmo após algumas semanas, consequências ainda estão presentes. “Ainda estou em fase de convalescença, sinto dores no corpo e nos olhos e noto sequelas como a blefarite, que faz os olhos ficarem embaçados”, relata.