A concorrência desleal passou a ser uma das principais preocupações dos empresários da indústria de transformação. Esta é a maior novidade trazida por uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O histórico mostra que esse tema vem gerando cada vez mais apreensão. Em 2021, por exemplo, a competição com a informalidade, o contrabando, a pirataria e o dumping foi citada por 10,4% dos entrevistados. Já no último trimestre de 2023, período da enquete, foi mencionada por 20% dos industriais.
A pesquisa revela que, agora, a competição desleal é a terceira maior preocupação dos empresários da indústria de transformação, superando, inclusive, as altas taxas de juros (citada por 19,5%). No topo das apreensões, permanece a elevada carga tributária (mencionada por 37,5% dos entrevistados), seguida da demanda interna insuficiente (31,2% das citações).
Esse é o principal problema para o setor de produtos diversos e, para os setores de vestuário e acessórios e o de produtos de borracha, é o segundo.
De fato, o Anuário de Mercados Ilícitos, elaborado pela Fiesp, mostra um quadro de gigantescos prejuízos para a indústria e o comércio, com perda de receitas e empregos no estado de São Paulo. Sinal de que está cada vez mais difícil disputar clientes com a informalidade, o contrabando e a pirataria.
Desde 2016, a Fiesp acompanha nove setores industriais: eletrônicos, vestuário, químicos, automotivo, alimentos, higiene, brinquedos, medicamentos e tabaco – este último lidera o ranking dos mercados ilícitos. O Anuário divulgado no ano passado, com base em dados de 2022, estimou que os mercados ilícitos movimentaram cerca de R$ 23 bilhões no estado.
Porém, o que mais tira o sono dos industriais continua sendo a alta carga tributária. Esta é a principal questão para 14 dos 22 setores pesquisados pela CNI, sendo que, para três deles a situação é muito crítica: mais da metade dos empresários dos segmentos de 1) produtos de limpeza, perfumaria e higiene pessoal; 2) de impressão e reprodução; e 3) de bebidas elegeram o excesso de tributos como o maior problema enfrentado no quarto trimestre de 2023.
Espera-se que, com a Reforma Tributária, aprovada no ano passado, a simplificação que deverá ocorrer com a adoção do modelo de Imposto de Valor Agregado (IVA) beneficie a indústria de transformação. A alíquota base será definida em lei complementar este ano e é fundamental que não seja alta demais para não comprometer a competitividade dos produtos brasileiros.
A pesquisa indicou ainda que o segundo maior problema é a demanda interna insuficiente. Para oito dos 22 segmentos, é o principal. Vale destacar que, desde 2021, a baixa procura por bens industriais é um dos maiores desafios colocados para os empresários da indústria de transformação. Outro sinal de se trata de algo relevante para o setor é que, há quase dez anos, este ponto vem sendo apontado como um entrave, com alto percentual de indicações no levantamento.
Por fim, as elevadas taxas de juros não foram apontadas por nenhum segmento como o principal problema. No ranking geral, caíram para quarto lugar entre as maiores preocupações, refletindo o momento de redução da Selic, iniciado em agosto de 2023.
Essa é uma questão cíclica, que varia ao sabor das decisões do Banco Central. Notadamente, afeta mais os setores que dependem muito de crédito, como o de veículos automotores (27,3% de menções) e de máquinas e equipamentos (24,7% de citações). Se as reduções na Selic previstas acontecerem, é possível que este item perca ainda mais importância.
Neste momento em que se discute o futuro da indústria brasileira, a pesquisa mostra um roteiro nos quais é preciso atuar.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)