OPINIÃO

Bizarrices da Geração Z

13/03/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Noite de gala. Abertura da temporada 2024 da Orquestra Sinfônica de Jundiaí no Teatro Polytheama. O sinal toca. A plateia é tomada pelas sombras da meia-luz e o foco se volta para o palco. A maestrina Claudia Feres entra, num compasso rapidinho, elegantemente vestida de preto. Passa a discorrer sobre os eventos que ganharão espaço durante o ano.

Sentados à minha frente, um casal com o filho adolescente entre eles, com um celular em punho jogando, ruidosamente, videogame. Delicadamente, me aproximei do ombro da senhora e disse:

- Aproveite o espetáculo!

Ela se voltou para mim com ar de estranheza, assustada, parecia indignada com a minha fala. Imediatamente o celular foi desligado. Assim que as luzes se apagaram, o "bebê" de aproximadamente 15 anos se aninhou nos braços da mamãe, tirou o tênis e dormiu durante todo o espetáculo.

Obviamente, aproveitei da belíssima apresentação, mas não consegui evitar uma série de questionamentos sobre o comportamento da bizarra Geração Z.

Quem são eles?

Nasceram no período de 1998 a 2009, têm entre 26 e 15. São digitais na veia, tiveram contato com a web ainda no berço. Desembarcaram num mundo tecnológico, volátil, incerto, complexo e ambíguo - o chamado mundo VUCA. Enxergam a realidade a partir de interações com canais virtuais.

Uma geração que desafia a compreensão de seu comportamento pelas gerações mais velhas. Pesquisas diversas apontam que querem ser donos de sua própria foça de trabalho; se aposentar mais cedo; não têm planos de carreira ou propósito de vida definidos, muito menos gostam de seguir horários e respeitar hierarquias. Contraditoriamente, embora desejem ser donos de sua força de trabalho e estejam comprometidos com sua própria independência de pensamento, pesquisa realizada pela Intelligent, revista online voltada para o público universitário, indica que quase 20% dos empregadores afirmam que um recém-formado trouxe um dos pais para uma entrevista de emprego.

Para eles, o trabalho é apenas uma parte da vida. Constata a pesquisa do Grupo Rabbit, com 28 mil famílias que possuem filhos em escolas particulares do Brasil, em maio de 2023, cujas três principais prioridades da geração Z são: "Qualidade de vida e bem-estar físico e mental", "Ter paixão pelo que faz", "Remuneração e tranquilidade financeira".

Outra parte da pesquisa do Grupo Rabbit demonstra que 47% dos alunos do Ensino II e Médio passam o tempo nas redes sociais se comunicando, enquanto 53% deles tem comportamento apenas passivo. "Eles ficam só vendo e escutando, e a interação fica aquém das necessidades sociais dos jovens", afirma Christian Coelho, CEO do Grupo Rabbit. "A interação social tem um impacto significativo na saúde mental. Estudos mostram que aqueles que têm dificuldade de se relacionar tendem a apresentar maiores níveis de stress, ansiedade, depressão e agressividade."

Nesse mundo VUCA me sinto numa "muvuca". Diante de tantas transformações as gerações que antecederam a "Z" estão tendo que redobrar a paciência para tentar entender esses novos comportamentos tão distintos que afrontam valores e se contrapõem aos espíritos mais tradicionais. Aparentam independência de pensamento e atitudes, mas não querem assumir responsabilidades que possam comprometer seu estilo de vida, além de tudo preferem ficar debaixo do teto dos pais.

Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora (rosangela.portela@consultoriadiniz.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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