A história das montadoras no Brasil se mistura com a história da transformação de um país de agrário em nação urbanizada e industrializada, movimento que ocorreu em meados do século passado. Desde então, o setor automotivo é um dos segmentos mais importantes da indústria brasileira, tanto que o Brasil está entre os dez maiores produtores de veículos do mundo (8º lugar, em 2022).
O recorde de produção de carros foi registrado em 2013, quando 3,7 milhões de veículos saíram das linhas de montagem nacionais. Porém, depois o crescimento econômico perdeu tração, houve dois anos de forte recessão, a indústria de transformação perdeu dinamismo e vem andando de lado.
Com a necessária transformação energética no mundo, em virtude das mudanças climáticas, novas oportunidades estão se abrindo para a indústria verde. A descarbonização do setor automotivo é uma das grandes vertentes e, neste caso, o Brasil está bem posicionado pois, além de possuir uma matriz energética e elétrica mais limpa, pode aliar a eletrificação aos biocombustíveis, como o etanol.
De olho neste potencial, importantes empresas do setor informaram, nos últimos três meses, que farão robustos investimentos no país nos próximos anos, algo próximo dos R$ 70 bilhões. É uma ótima notícia, pois trata-se de uma cadeia produtiva longa e que gera empregos formais de qualidade. Na semana passada, houve dois comunicados relevantes.
A Stellantis Brasil, que produz carros das marcas Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën e RAM, anunciou o maior investimento já feito por uma montadora no país. Dono de três plantas industriais em solo nacional, o grupo disse que, entre 2025 e 2030, vai colocar R$ 30 bilhões no lançamento de 40 veículos, entre novos e repaginados, com foco principal em modelos híbridos flex. Segundo o CEO global da Stellantis, Carlos Tavares, o Brasil se tornou o centro de desenvolvimento dos novos híbridos da montadora em função de sua experiência com o etanol.
A Toyota, por sua vez, anunciou investimentos de R$ 11 bilhões até 2030 com a criação de dois mil empregos. Desse total, R$ 5 bilhões serão desembolsados até 2026 para a produção de um novo veículo compacto híbrido flex e de outro modelo, que usa a mesma tecnologia, desenvolvido especialmente para o Brasil.
Antes disso, também haviam comunicado novos investimentos a Volkswagen (R$ 9 bilhões entre 2026 e 2028), a General Motors (R$ 7 bilhões até 2028), a Hyundai (R$ 5,4 bilhões até 2032), a BYD (R$ 3 bilhões) e a Renault (R$ 2 bilhões).
Há sempre o risco desses investimentos não se materializarem integralmente, mas está claro que o Brasil segue no mapa da indústria automobilística, que foi globalmente impactada pela Covid-19 e pela crise dos semicondutores que paralisou fábricas inteiras, durantes dias, em 2021, 2022 e até o início de 2023. Agora, tudo indica, as montadoras vêem boas perspectivas para o país.
O lançamento do Mover, no final de 2023, que é o programa de mobilidade verde do governo, é mais um impulso para esta indústria – e tem sido enaltecido pelas montadoras. O programa prevê incentivos escalonados, até o fim de 2028, que somarão R$ 19 bilhões em créditos para a descarbonização da frota com estímulo à produção de novas tecnologias, além da promoção do uso de biocombustíveis e de outras energias alternativas.
Na semana passada, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, informou em evento na Fiesp que a regulamentação do Mover será publicada até o final deste mês. A expectativa é que, com os detalhes do programa anunciados, mais montadoras decidam investir no Brasil.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)