OPINIÃO

Podar é preciso. Plantar, imprescindível

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Os fenômenos extremos continuarão a ocorrer. Mais intensos e mais frequentes. Isso implica em queda de árvores e em apreensão por parte da população. Há os radicais que querem a extinção absoluta de todas as árvores. Já ouvi de um jovem prefeito da capital que "pobre não gosta de árvore", porque suja a calçada e porque serve de esconderijo para bandido. Existe o comodismo de quem não quer varrer folhas caídas. Mas existe a minoria que sabe que o Brasil tem um déficit de mais de um bilhão de árvores. Não há cidade que se possa considerar dispensada de conciliar as podas, às vezes necessárias, com o replantio, este fundamental.

Leio que Campinas, este ano, plantará mais de duzentas mil árvores. No ano passado, plantou 316,3 mil novas espécies. Ao lado desse plantio, existe o serviço de tomografia fitossanitária, que permite identificar o estado de saúde da árvore. Em Paris, há chips nos exemplares, com a idade, nome científico e popular, última poda e demais dados. Tudo isso controlado pela cidade que mais recebe turistas em todo o planeta.

Vejo também em São Paulo, nos Jardins, um elogiável controle das grandes árvores que restam, com a indicação de preservação e outras com o anúncio de breve erradicação, mas com substituição imediata por outra planta nova.

A formação de equipe de arvoristas é algo que se mostra urgente em qualquer cidade, principalmente naquelas que têm orçamento compatível com o seu desenvolvimento. Campinas, em convênio com a CPFL – Companhia Paulista de Força e Luz, a cada árvore removida, haverá a doação de vinte e cinco novas mudas nativas à Prefeitura. Esta providencia o plantio e compensação, o que garante, só nos primeiros seis meses deste ano, a reposição de quase dez mil novas árvores.

A equipe encarregada do cuidado da vegetação de rua em Campinas dispõe de duzentos e setenta e quatro servidores que atuam em vinte e nove equipes. A análise fitossanitária é a submissão das árvores a uma tomografia para auxiliar na identificação de problemas invisíveis às análises visual e laboratorial e permitir o tratamento adequado.

Mais importante ainda é a equipe específica para atuar na área de educação. Cento e dezesseis funcionários se encarregarão de percorrer a cidade, esclarecendo à população a importância de preservação das árvores, de multiplicação do plantio, da formação de viveiros particulares, da necessidade de um trabalho coletivo para a coleta de sementes que se perdem e vão para os bueiros, sem que cumpram a sua função reprodutiva.

As escolas municipais campineiras contam com ampla arborização e dispõem de pequenos bosques, de hortas e jardins. Uma saudável emulação seria suscitar, em todos os estabelecimentos educacionais de qualquer cidade, um prêmio para a melhor preservação, para a melhor horta, para o mais bonito jardim.

Também premiar os cidadãos que, espontaneamente, adotassem a benfazeja prática de plantar às margens dos córregos – infelizmente, canalizados e retificados, para servir à sua majestade o automóvel, alimentado por combustíveis fósseis que ameaçam a sobrevivência da vida no planeta – ou de utilização de qualquer espaço vazio para formar um pequeno cogumelo verde.

Sem mais árvores, o clima continuará a afligir os seres humanos. O aquecimento global não é lenda. É triste realidade constatada pela ciência. E o remédio está aí, disponível. Mas ainda há muita gente que não quer enxergar. As pessoas conscientes têm de despertar a atenção e o interesse das crianças. Estas conseguem exigir compostura do governo e motivar os adultos a tratarem a crise conforme ela é: grave, crescente e nefasta.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e autor de "Ética Ambiental" e "Ética Geral e Profissional" (jose-nalini@uol.com.br)

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