OPINIÃO

De Gênova para o Brasil: 150 anos

24/02/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Nos 150 anos da emigração italiana para o Brasil esse assunto que parecia restrito a quem gostaria de ter dupla cidadania para obter passaporte europeu, volta a tomar dimensões de interesse de massa, sobretudo da Globo, que achou nessa pauta uma vertente de audiência e teve grande repercussão.

O programa Globo Repórter do último dia 16 de fevereiro revela, até então, o que era pouco conhecido: o Museu Nacional da Emigração Italiana, em Gênova, que foi porto para centenas de milhares de famílias emigrantes para o mundo. O museu mostra, em números impressionantes, as relações de italianos que saíram de seu país e contam os relatos e histórias dessas viagens.

As relações afetivas dos descendentes emigrantes, com esse que foi o sonho de fazer a América, têm hoje um desejo de conhecer de onde vieram cada vez menor, à medida que as gerações se distanciam e as famílias se dispersam. Por outro lado, o número de descendentes de emigrantes que tem a dupla cidadania cresce a cada ano; e o numero de interessados se ampliam ao ponto dos órgãos não darem conta nem dos pedidos, nem das entradas, o que é demonstrado em filas no Consulado Geral da Itália, na Avenida Paulista.

Aqui, até onde estudei, fiz o registro dos emigrantes assentados no recém criado Núcleo Colonial Barão de Jundiaí em 1886. Tive acesso e estudei milhares de documentos in loco, principalmente no Arquivo do Estado de São Paulo, que descortinou uma história desde a chegada dos primeiros emigrantes até 1979. Foi feita uma grande exposição no solar do Barão de Jundiaí, com minhas coleções, de meus amigos e de colaboradores que resultou, com um êxito enorme, em um evento para lembrar e celebrar os 100 anos da emigração italiana em Jundiaí.

Por ocasião desses 150 anos, tomo a liberdade de pedir ao município, novamente, que inclua em seu calendário um espaço para outra exposição, dessa vez com os documentos, objetos e obras de acervos meus e de outros, dos trabalhos de outros pesquisadores que também já avançaram no esclarecimento dos emigrantes e seus descendentes, incluindo, sobretudo, a brasilidade, já que a distância entre esses novos descendentes com seus parentes de origem ficou enorme.

A grande indústria, que teve relevante importância na economia nacional, e que em sua maioria não existem mais, já é um assunto do passado que agora precisa ser lembrado. Só isso já justifica colocar em foco essa história popular da emigração italiana, na sua dimensão do fazer e do conhecimento popular que o emigrante trazia com ele e, que aqui, continuava num amalgama com os nacionais, com o que já se fazia, mas que expandia e aumentava a importância econômica e cultural e evidenciava essa contribuição italiana na indústria e no fazer da produção quase artesanal da indústria de Jundiaí.

Para fazer minha pesquisa, que foi financiada pela FAPESP no MASP, tive como orientador o Prof. P.M. Bardi e sua esposa, Arq. Lina Bo Bardi. Essa orientação teve, até no modo expositivo para o evento, uma importante participação de dona Lina e essa maneira não pode ser esquecida e deve ser continuada com acréscimos e atualizações.

Celebramos também o aniversário de 124 anos de nascimento do Prof. Bardi, e no Instituto Bardi, localizado na Casa de Vidro, projeto da dona Lina, a Bela Gil ofereceu um jantar em comemoração a esta data.

Esses 150 anos que se comemora em 2024, e os 137 Anos da emigração italiana em Jundiaí, já merecem atenção de todos que possam colaborar para sua realização, em especial a Unidade de Gestão de Cultura, o diretor do Museu Histórico e Cultural de Jundiaí e já contamos com um grupo de amigos entusiastas e comprometidos com a causa, dispostos a viabilizar a criação de um Centro de Memória da Imigração Italiana em Jundiaí.

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista e autor do livro "Núcleos Coloniais e Construções Rurais" (edupereiradesign@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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