OPINIÃO

Carnaval é importante?

16/02/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Encerramos as festividades carnavalescas em todo o Brasil, com manifestações diversas, como frevo, bumba-meu-boi, maracatu, reggae, trios elétricos, blocos, cordões, desfiles nos sambódromos e muito mais.

Importante também destacar que além disso, o Carnaval impulsiona a economia, cultura, turismo, hotelaria, transporte e empregos diretos e indiretos, desde a construção das fantasias aos carros alegóricos, bonecões, instrumentos musicais, religião, culinária, literatura, envolvendo milhares de pessoas em todos os ramos da sociedade.

No quesito cultura, reparem que, em especial nos desfiles em São Paulo e Rio de Janeiro, as escolas de samba trazem e trouxeram conhecimentos a respeito das grandes personalidades e heróis nacionais, como, por exemplo, Luiz Gama, Drummond de Andrade, Machado de Assis, Zumbi dos Palmares, João Candido, Carolina Maria de Jesus, comunidades indígenas, ciganas, imigrantes gerais. Enfim, provam e comprovam miscigenação integral desde a racial, passando pela troca de experiências culinárias, religiosas, educacionais, autoestima. Têm e mantêm a população em descontração absoluta bem assim, em ampliação do conhecimento.

A exemplificar, a escola de samba Portela optou pelo samba enredo proposto pelos carnavalescos Antonio Gonzaga e André Rodrigues, tratando da luta da grande heroína Luíza Mahin para encontrar o seu filho, Luiz Gama, vendido pelo próprio pai, quando contava com apenas 10 anos de idade. A agremiação recomendou estudos a respeito desse valoroso personagem divulgando a obra "Um Defeito de Cor", que, realmente, vale a pena conhecer, já estando na 28ª edição.

Luiz Gonzaga Pinto da Gama (1830-1882), jurista exemplar da luta abolicionista, estudou direito e jornalismo sozinho, habilitando-se a lutar contra a escravidão, alcançando sucesso na libertação de mais de 500 escravizados, sem esquecer que após conhecimento da legislação conquistara a própria liberdade, tendo usado a tese de defesa sustentando que "O escravo que mata o senhor, seja em que circunstância for, mata sempre em legítima defesa." Até não se exige muito esforço para entender a tese, pois que as atrocidades impostas aos seres humanos escravizados poderiam chegar - e chegavam - à morte, logo, ao defender a própria vida encontra proteção legal da "legítima defesa".

O Carnaval é a expressão cultural que reúne diferentes grupos e tradições, promovendo o compartilhamento de valores e diversidades, reforçando a identidade nacional e, como venho aqui provocando, uma reflexão sobre seus impactos e significados, some-se a tudo isso a movimentação financeira, com o turismo, hotelaria, mão de obra, além dos quesitos "educação e história".

Independente do ponto de vista, o evento se tornou momento de privilégio exclusivo em nível mundial, celebrando a cultura afro-brasileira, valorizando a história, os heróis e grandes personagens negros e negras, com a efetiva inclusão da diversidade, afirmando e reafirmando a identidade nacional e contribuindo, inequivocamente, com a incansável busca de uma sociedade mais justa e igualitária.

Outras agremiações trouxeram lendas e realidades experimentadas pela população brasileira, dentre as quais a presença importante dos imigrantes, da comunidade cigana, dos indígenas, do meio ambiente, da culinária, da religião, do esporte, da música, das artes, da educação, da saúde, do trabalho, da dignidade da pessoa humana, enfim, a trajetória e importância da comunidade negra na construção do nosso querido Brasil, maldosa e descabidamente ignorada pelo poder dominante.

Sim, infelizmente, com todos os elogios lançados ao evento, quer sejam desempenho musical (letra, musica e fundamento), criatividade na construção das fantasias, carros alegóricos, coreografia, vínculo temático com samba-enredo, ensaios, o que me chama a atenção é a indiscutível presença desse potencial em todas as posições, seja de destaque, seja na limpeza das pistas, pessoas, musicalidade, desempenho, beleza e tudo o mais em vultoso número. Até aí, tudo bem! E depois? Continuam na invisibilidade e com as portas fechadas? Adoraria que não!

Eginaldo Honorio é advogado, doutor Honoris Causa e conselheiro estadual da OAB/SP

(eginaldo.honorio@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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