OPINIÃO

'Mais de mil palhaços no salão....'

10/02/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Depois da avalanche de gente de ontem, no bloco Refogados do Sandi, que era um bloco pequeno onde todos se conheciam e hoje virou aquele gigante de foliões que nunca pensamos que chegaria a ser.

Se lembrarmos do Picoco, seu Osvaldo, os "bárbaros" que ainda tem seus sobrinhos carnavalescos, que não aparecem, mas ainda continuam na folia. Das senhoras que tinham as dores, as artrites, bursites e outras dores, mas que estavam lá como se nada tivesse acontecido e só alegria... isso continua, são outras senhoras, agora aquelas que foram as jovens do começo nos anos 1980, já com sinais parecidos, mas animadíssimas.

Se nos próximos dias os outros blocos continuarem no volume de gente em escala geométrica, o carnaval de rua daqui será um dos melhores do estado.

Nos anos 1950, 1960 e 1970, o Clube Jundiaiense teve o papel de ser o melhor carnaval de salão do interior de São Paulo. Não me parece que hoje mantem a mesma fama e o mesmo carisma. Foram tempos ótimos de glamour, de desbunde e de contravenções; as regras do clube, muita gente pra fora, alguma expulsas, sem danos a ninguém, mas era um momento de mudança, de comportamento de mudança política, da revolução sexual e de hábitos que no carnaval do clube aparecia e não era tímido não.

Os blocos de fantasia eram muito lindos. Coleções de fotos do Afonso Magalhaes podem comprovar essa história; e outros que não eram tão lindos, improvisados e interessantes com seus componentes jovens e belos. Blocos de gregos com lençóis recém tirados de gavetas viravam uma sensação, até porque caiam kkkkk. E aí com cerveja e lança perfume isso ficava normal.

Os "Aqualoucos" na piscina eram sensacionais, engraçadíssimos e parecia ensaiado, muito ensaiado, porque era surpreendente a familiaridade dos carnavalescos com a alegria de um palco circense na água, no trampolim e arrancavam suspiros de medo das manobras que faziam e que eram hilárias, inesquecíveis.

Não podiam entrar crianças nem jovens à noite; para eles tinha a matinê. Deliciosa, a maioria com lindas fantasias e aparecia até lança perfume, que por muito tempo foi permitido. Era adorável ver as crianças no salão brincando e iam prontas pra começar brevemente a noite. Isso tudo acontecia na sede central do Clube Jundiaiense, hoje deslocado para a sede de campo não tem o mesmo charme.

A sala de jogos, permaneciam os que habitualmente estariam ali pra jogar, mas nesse período ficavam ali no whisky até o final para a canja famosa do fim do baile de carnaval. Esse clube irreconhecível, parece que foi abandonado, não sei se de proposito ou os sócios não curtem mais a sua sede, linda, parecendo filmes de Hollywood, mas obsolescente para seus sócios e pelo número de associados.

A sede central na Rua Onze de Junho é projeto do arquiteto, e ex-prefeito de Jundiaí, Vasco Venchiarutti (1920 - 1980), de meados da década de 40, e cumpriu perfeitamente o programa do projeto para o clube pelos bailes, pelos shows, pela boate que recebeu todos os artistas antigos da MPB, e claro as orquestras que animavam os bailes chiques e disputados, o que até hoje é comprovado pela qualidade do espaço para se fazer eventos. Por tudo isso e muito mais merece uma revitalização cultural de seus diretores e espero que aconteça.

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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