
Após ganhar holofotes durante a pandemia de covid-19, a ivermectina voltou a ser assunto. O Ministério da Saúde publicou um comunicado desmentindo boatos de que o medicamento, usado para combater parasitas, seria eficaz contra a dengue. Em Jundiaí, o JJ procurou farmácias, que afirmaram não ter diferença na procura pela ivermectina.
De acordo com o Ministério da Saúde, a informação, sem base científica ou dados que comprovem eficácia, teria sido publicada, inclusive, em perfis de alguns profissionais da saúde nas redes sociais.
"Para ficar claro: a ivermectina também não é eficaz em diminuir a carga viral da dengue. O Ministério da Saúde não reconhece qualquer protocolo que inclua o remédio para o tratamento da doença", alertou o governo federal em nota. "Disseminação de fake news, principalmente quando se trata de um cenário epidemiológico que pede atenção, é extremamente perigoso", completou.
DESMENTINDO
Infectologista, Roberto Focaccia afirma que não há relatos médicos do sucesso no uso do antiparasitário para tratar a dengue, uma doença causada por vírus. "É fake news, mais uma de milhares, induzindo as pessoas ao erro. A internet não tem controle. É algo que no tempo da covid foi uma batalha política. Cientificamente, não tem o menor sentido. Ivermectina é um antiparasitário, dengue é um vírus", explica.
Focaccia diz que os argumentos usados para a ivermectina, tanto no tratamento da covid quanto da dengue, não condizem com a realidade. "É um 'milagre' anticiência. Acharam algo de que ivermectina tinha uma atividade fraquíssima contra vírus, então disseram que combatia, mas na literatura médica tem vários remédios do dia a dia que tem uma pequena ação antiviral, só que in vitro, no organismo humano, não chega a ter efeito. É uma enxurrada de bobagens e muita gente morreu porque usava ivermectina e se recusava a tomar vacina e a ir para a UTI n apandemia. Não tem o menor sentido, é um absurdo e vai continuar se não houver uma regulamentação da internet."
Por causar hemorragias, a dengue tem contraindicação de alguns medicamentos. Questionado sobre o risco da ivermectina, o infectologista diz que não há relatos de que faça mal, mas é um placebo. "Não piora, funciona como placebo, mas o problema é quando a pessoa deixa de ter um tratamento adequado e parte para algo assim. Só tem estudo que demonstra que não funciona, não há algo falando que pode piorar o quadro de alguma forma. Mas as pessoas são levadas mais pela ideologia do que pela ciência", reclama.
TRATAMENTO
A ivermectina costuma ser usada para tratar parasitas, como explica o gerente farmacêutico de uma farmácia do Centro, Carlos da Silva. "Para tratar dengue eu não vi ninguém procurando ainda, só para outras finalidades, como protozoários, fungos, vermes, piolhos. Dengue, não."
No Brasil, começou a ser aplicada em janeiro a vacina contra a dengue, a Qdenga, mas a abrangência neste primeiro ano deve ser baixa. O governo alega que a capacidade de produção do laboratório fabricante, o japonês Takeda, ainda é limitada. De acordo com o Ministério da Saúde, o protocolo oficial para dengue prevê diagnóstico médico.
Para os casos leves, a recomendação é repouso enquanto durar a febre; hidratação; e administração de paracetamol ou dipirona em caso de dor ou febre. É contraindicado que o paciente tome ácido acetilsalicílico, a popular aspirina, que pode agravar casos de hemorragia causados pela doença. Na maioria dos casos, há uma cura espontânea depois de 10 dias.
"É muito importante retornar imediatamente ao serviço de saúde em caso de sinais de alarme (dor abdominal intensa e contínua, náuseas, vômitos persistentes e sangramento de mucosas). O protocolo sugere a internação do paciente para o manejo clínico adequado", reforçou a pasta.