OPINIÃO

Antonio Henrique da Cunha Bueno

04/02/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Conheci Antonio Henrique por ocasião da ameaça que sofria o Solar do Barão de Jundiaí de ser demolido. Em nome do "progresso" que pôs abaixo a Escola Normal, na esquina da Barão com a Padroeira, o Asilo dos Velhos, na Rosário, e tanta coisa mais, pretendia-se erguer mais um edifício moderno, na pobreza arquitetônica de quem pretende se aproveitar de cada centímetro quadrado para incluir mais concreto na paisagem.

Ele foi sensível. Era o Secretário da Cultura que tombara o Palácio da Justiça, magnífica obra de Ramos de Azevedo, ainda hoje a lembrar o que foi o heráldico centro paulistano.

Eu já conhecia seu pai, o deputado Antonio Sylvio da Cunha Bueno, sempre atento a Jundiaí e a seus legítimos interesses. Foi facilitado, portanto, o acesso. Desde então, Antonio Henrique se tornou meu amigo. Convidou-me para seu casamento, estive algumas vezes em sua casa, participando de reuniões familiares. Depois tornei-me amigo de sua irmã, Dora Sylvia, que hoje é a Presidente da Associação Paulista de Fundações.

Homem culto, viajado, colecionador de belas obras, Antonio Henrique Bittencourt da Cunha Bueno (17.6.1949-22.01.2024) era filho de Edy Bittencourt e Antonio Sylvio da Cunha Bueno.

Elegeu-se deputado federal por sete mandatos, suplantando seu pai, que se elegera quatro vezes. Antonio Sylvio era detentor do mais pormenorizado cadastro de cidadania, todo fichado e manuscrito, em tempos anteriores à informática e ao mundo web. Ali se encontrava tudo o que interessava a um político realmente empenhado em se fazer presente na vida do eleitorado. Não só o nome e o endereço, mas data de aniversário, nome de cônjuge e filhos, particularidades que propiciavam uma natural intimidade com aqueles que passava a considerar verdadeiro amigo.

Antonio Henrique se tornou político, depois de cursar Economia no Mackenzie, em virtude de cassação de seu pai, pelo Ato Institucional nº 5, em 16.1.1969. Eleito Deputado Estadual em 1970, foi para a Câmara Federal entre 1974 e 1978. Assumiu a Secretaria Estadual de Cultura e trouxe novo ímpeto para o patrimônio histórico.

Naturalmente refinado, pugnou pelo referendo para o retorno da Monarquia no Brasil, conseguindo a inclusão de previsão na Constituição de 1988. Como todos sabem, a República Presidencialista venceu e o Brasil teve de abandonar o sonho de retorno ao glamour imperial interrompido com o golpe de 15 de novembro de 1889.

Mercê de sua atuação na defesa de valores sólidos da tradição nobiliárquica, foi admitido à Ordem do Infante Dom Henrique pelo Presidente Mário Soares, no grau de Grande Oficial especial. O Presidente Fernando Henrique Cardoso o condecorou com a Ordem do Mérito Militar, no grau de Comendador Especial.

Quando era genro do pernambucano Nilo Coelho, votou pelo impeachment de Fernando Collor em 29.9.1992 e reelegendo-se deputado federal em 1994 e 1998.

Nunca deixou de nutrir um carinho especial por Jundiaí. Ainda guardo fotografias do dia em que assinou o Tombamento do Solar do Barão de Jundiaí, ao lado do Prefeito Pedro Fávaro, da querida Dulce Ribeiro Simonsen, que também se empenhara na causa e que praticou notável mecenato em nossa cidade, além de Lúcia Falkemberg, então Presidente do Instituto Histórico Guarujá-Bertioga, que condecorou os responsáveis pela preservação desse belo exemplar de arquitetura colonial-imperial que ornamenta a principal Praça de Jundiaí.

Antonio Henrique Bittencourt da Cunha Bueno foi um homem público de rara erudição. Os Cunha Bueno vêm de uma dinastia muito nobre na História de Portugal e do Brasil. Fará falta à política brasileira.

José Renato Nalini é reitor de universidade, docente da Pós-graduação e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras (jose-nalini@uol.com.br)

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