OPINIÃO

Economia Verde: o Brasil na boca do gol


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Você sabia que uma floresta pode dar dinheiro sem que seja preciso derrubar as árvores e vender a madeira, apenas conservando a mata virgem?

O Grupo Diax, um conglomerado de empresas que alia setores de tecnologia, finanças e sustentabilidade ambiental, está fazendo exatamente isso: recentemente adquiriu uma área na floresta amazônica equivalente a 10 mil campos de futebol. Não para derrubar as árvores, comercializar madeira ou explorar o garimpo em seus rios, mas para conservá-la em pé, visando com isso gerar créditos de carbono, uma commodity (ou seja, uma mercadoria, algo que pode ser comprado ou vendido) da nova Economia Verde.

Com a invenção do motor de explosão durante a Revolução Industrial, o petróleo, até então um produto da natureza sem valor algum, tornou-se a commodity mais valiosa no mercado mundial.

O problema é que o gás carbônico expelido pelos motores, ao longo dos últimos séculos, foi-se acumulando na atmosfera, impedindo com isso que o calor gerado pela vida no planeta se dispersasse no espaço. Como resultado desse processo, a temperatura da nossa atmosfera foi aumentando até nos levar ao atual desequilíbrio do clima, que ameaça agora a própria existência da Humanidade e até mesmo da vida em nosso planeta.

É interessante observar que já na segunda metade do século passado, o cientista James Lovelock, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, se deu conta dessa ameaça à vida na Terra, o que o fez elaborar "a hipótese de Gaia" alertando o mundo para esse perigo. Foi solenemente ignorado e o resultado dessa incúria é a sequência de catástrofes desses últimos anos.

Hoje em dia - vencido o negacionismo - a clara iminência de uma catástrofe que ameaça a vida na Terra levou finalmente as nações a tomarem medidas para diminuir e, eventualmente, zerar a emissão de gás carbônico na atmosfera. Uma das principais nesse sentido é a criação do mercado de créditos de carbono.

Funciona assim: países que dependem de carvão e petróleo enfrentam desafios para reduzir suas emissões de carbono. Já países como o Brasil, com uma matriz energética renovável e vastas florestas que absorvem o gás carbônico, podem transformar esse sequestro em créditos de carbono. O Brasil, por exemplo, poderia vender essa nova commodity para a Alemanha, o que ajudaria aquele país a compensar suas emissões.

Ou seja: nessa nova economia, denominada Economia Verde, o Brasil, que tem uma capacidade enorme de fornecer créditos de carbono, pode gerar riqueza capaz de nos levar ao primeiro pelotão das economias mundiais.

Já tivemos uma oportunidade igual, na época da transição da economia mercantilista e agrária, baseada por aqui no comércio de escravos e na agricultura, para a nova economia industrial, mas perdemos essa chance por termos, como diz a economista Zeina Latif, "o olhar voltado para o passado".

Quando, por três vezes, fui prefeito de nossa cidade, lutei por soluções inovadoras, investindo no saneamento básico em parceria com a iniciativa privada, algo pioneiro no país naquele período, bem como no abastecimento de água assegurado por décadas com a nossa represa e na preservação da Serra do Japi. Deu certo.

O olhar voltado para o futuro, esse é o caminho.

Miguel Haddad é advogado, foi deputado e prefeito de Jundiaí (miguelmhaddad@gmail.com).

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