OPINIÃO

Mobília moderna dos Palácios de Brasília

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"Às 15h32 do dia 8 de janeiro de 2023, um homem de meia-idade, vestindo uma camisa amarela e com uma barra de ferro na mão, invadia com uma turba o Palácio do Planalto e avançava para o mezanino, quebrando em dois golpes o vidro de cristal da mesa Vitrine que expunha registros históricos do Palácio do Planalto. A mesa Vitrine tinha sido feita por Sergio Rodrigues."

Com esse texto forte e contestador da contracapa do livro "Sergio Rodrigues em Brasília (1956-1981)", que o organizador Marcelo Mari apresenta o célebre e reconhecido design, no país e no exterior, Sergio Rodrigues (1927 - 2014) para o grande público brasileiro. O livro de diversos autores descreve o que foi feito, como foi feito, e como seus móveis acompanharam a criação de Brasília e se tornaram símbolos e patrimônios do país.

A geração moderna de designers brasileiros tem em Rodrigues seu mais talentoso mestre. Sua icônica poltrona Mole recebeu o prêmio do IV Concurso Internacional de Móvel de Cantú, Itália em 1961, e foi de cara um sucesso. Hoje ela é imitada à exaustão e pode ser até que tenha uma certa simpatia dos brasileiros pela imitação e não pelas peças genuínas que sempre foram caríssimas e continuam sendo produzidas por preços altos. Mas, no livro, essa abordagem estuda todos os móveis para os palácios de Brasília, que, como a arquitetura de Nova York, são uma perfeita identidade estética do país.

Em 1957, Rodrigues foi chamado por Oscar Niemeyer (1907-2012) para fazer o mobiliário dos palácios, iniciando pelo mobiliário do Catetinho, residência provisória do presidente da República Juscelino Kubitschek (1902 - 1976). Sergio é o designer de mobiliário por excelência! E o prêmio recebido em Cantú deu a ele o reconhecimento para fazer os mobiliários necessários aos edifícios da capital do país.

O início se dá no necessário e urgente equipamento mobiliário para a Universidade de Brasília, a UnB. Darcy Ribeiro pede com urgência as 250 cadeiras para o auditório e todo o mobiliário para a universidade.

No livro "Mobiliário Moderno: das pequenas fábricas ao projeto da Universidade de Brasília", organizado por Calheiros, Mari e Rufinoni, há uma passagem em que Sergio relata o chamado de Darcy Ribeiro (1922 - 1997) para a confecção das cadeiras da UnB: "(Darcy) disse que queria as cadeiras de qualquer jeito, eu disse: 'Olha, de qualquer jeito você me arranja a passagem, que eu vou para São Paulo e me viro lá para produzir alguma coisa e saber qual é a fábrica que pode fazer 250 cadeiras".

Em 1980, Lina (Bardi) (1914 - 1992) me conta que Oscar (Niemeyer), à época de Brasília, pede para ela se conhecia alguma fábrica de cadeira em São Paulo e ela indica a fábrica de cadeiras Pelicciari, em Jundiaí. Isso não teve desdobramento, mas não havia indústrias de cadeiras em São Paulo.

Sergio Rodrigues faz um projeto modulado que atende com a modernidade no desenho, na função, na componibilidade e na produção industrial da mobília; um mobiliário com exigências de simplicidade e eficiência. E depois continuou a produzir os mobiliários representativos que abrangem as áreas da alta hierarquia dos ministérios do Itamaraty. Uma história épica de urgência e destreza na solução de um projeto.

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)

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