OPINIÃO

Persistente Terra da Uva!

13/01/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Com o reconhecimento da uva Niagara Rosada de Jundiahy, como região demarcada, temos um modelo e história de avanços onde a disseminação pela plantação foi por toda a região e por muito tempo se espalhou ao ponto de andarmos pelas estradas e só vermos esses parreirais. Isso foi sobretudo nos anos 1950 até final dos anos 1960.

Nesse período, essa produção forçou meios de distribuição que superaram fronteiras: se consideramos que para distribuir a uva rosada no Rio de Janeiro era preciso carregar o caminhão até o final do dia e depois percorrer a madrugada para chegar na Ilha do Governador, de onde seria distribuída para todo o estado. Chegava já vendida e para essa operação se usava rádio, onde o motorista ficava em contato com uma central no Traviú e outra na Ilha do Governador; entre as falas, a palavra "cambio" dividia e encerrava cada fala. Isso se manteve e foi um avanço na logística,

Se no Traviú, onde a dinâmica foi maior, não foi diferente em Itupeva e na Chave: o que hoje é distrito industrial foram parreirais. Na época do natal, essas uvas seriam a beleza da mesa e as primeiras que vinham dariam uma maior renda ao agricultor. As primeiras com ágio valiam ouro, nem a família que plantava consumia, só mais tarde.

Difícil imaginar como foi e como que isso foi caindo e se transformando em função da valorização estratégica dos terrenos na área do Varjão, Traviú e Chave especialmente. Difícil acreditar que essa produção ainda se mantem enorme.... e se mantêm, como foi comprovado na última quinta-feira pela premiação dos tradicionais produtores do Traviú pelas melhores uvas na 39ª Festa da Uva.

Teresinha Chechinatto, de 91 anos, conta que no bairro Chave o plantio de uva começou com seu pai Emilio Chechinatto, com uma grande produção que durou de 1936 até 1980, que se estendeu para Itaicy. Hoje quase não se tem mais pés de uva na região.

Com técnicas muito modernas, hoje está distribuída por períodos de produção, muito diferente dos primeiros tempos quando, por décadas, não se controlava nem as pragas nem as épocas de colheita das videiras.

Essa história de ocupações e transformações precisam ser mais esclarecidas, mas sem dúvida o que eram plantações de uva se transformou ou em condomínios de residência ou logística.

A festa da uva, que teve suas edições ininterruptas, foi na mão do Jacyro Martinasso, em 1958, que teve seu auge, e trouxe de São Paulo multidões para os pavilhões, diferentes desses que conhecemos. Também foi nesse ano que foi eleita a rainha da festa da uva, a inesquecível Yole Tozetto. Com Martinasso, as vinhateiras iam para os programas de tv promover a festa com suas cestas cheias de uvas verdadeiras, e o retorno era garantido.

Difícil imaginar que tudo isso começou na Colônia com a primeira leva de imigrantes em 1886, em casas com usos severos, pouquíssimos móveis, mas muitos recursos culturais. Esses imigrantes realmente fizeram as hortas e venderam a produção em carroças na cidade, fizeram em sequência no tempo os desenvolvimentos de móveis, industrias cerâmicas e impressionante fabricação de espumantes da Cereser.

O que faltava na produção de vinhos de mesa de qualidade está em processo de superar pelas pesquisas no Centro de Enologia na ETEC Benedito Storani.

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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